A ERA DA PÓS-VERDADE (I)

3 de fevereiro de 2017 / 1 Comentário

pós-verdadeDesde 2004, o Dicionário Oxford escolhe uma expressão ou palavra que mais despertou a atenção no ano. Em 2016, a palavra escolhida foi:  “pós-verdade”.

Segundo a editora, o uso dessa palavra aumentou 2.000% entre o ano de 2015 e 2016.

Antes de apresentarmos um conceito sobre a “pós-verdade” vamos a alguns fatos que poderão nos ajudar a entender o fenômeno:

Foi disseminada durante a campanha pela saída (BREXIT) do Reino Unido da União Europeia (MERCADO COMUM EUROPEU) que, caso o plebiscito a favor do BREXIT vencesse, a Inglaterra iria deixar de gastar 350 a 470 milhões de libras por semana, que passariam a ser destinados ao serviço público da saúde.

Essa mentira foi aceita como verdade pela intensidade com que foi propagada em discursos, sites, redes sociais como Facebook, Whatsapp, Twiter, e outros.

Fenômeno idêntico aconteceu com Donald Trump, afirmando que Barack Obama não era cidadão americano porque tinha nascido no Quênia, terra do seu pai. Essa notícia foi recebida como verdade por grande parte do eleitorado norte americano.

Quem mais contribuiu para popularização mundial do termo “pós-verdade” foi a revista The Economist, desde quando publicou em setembro passado, o artigo “A arte da mentira”.

Republicado em diversos países, o comentário da revista britânica suscitou analogias e um vasto inventário de pós-verdade. Na Colômbia, o acordo de paz do governo com as Farc foi derrotado em referendo porque as igrejas, em especial as evangélicas, convenceram boa parte dos eleitores de que ele estimularia a dissolução das famílias e a homossexualidade das crianças. “O anticristo está na Colômbia”, disparou um pastor nas redes sociais, em comentário que viralizou.” (revista Carta Capital)

Estamos saindo da dicotomia tradicional entre certo e errado, bom e mau, justo ou injusto, fatos e versões, verdade ou mentira, para ingressarmos numa era de avaliações fluidas, terminologias vagas ou juízos baseados mais em sensações do que em evidências.” (revista The Economist)

Não é tão simples firmar um conceito sobre pós verdade. Mas vamos tentar. O ser humano tem ideias preconcebidas sobre vários assuntos, muitas delas sem nenhum dado comprobatório, sua crença está mais baseada em suas preferências, emoções, sentimentos, antipatias.

Quando ele recebe uma informação que corresponde à sua expectativa, abraça-a de imediato sem se preocupar em pesquisar se é verdadeira ou falsa, certa ou errada, justa ou injusta.

Nos primórdios do cristianismo temos o episódio de Nero, incendiando Roma e culpando os cristãos. Todos os que tinham pensamentos de rejeição aos seguidores de Cristo abraçaram a ideia e iniciaram uma grande perseguição à igreja primitiva, sem se preocuparem com a veracidade da notícia divulgada.

Jesus Cristo disse que nos últimos tempos as pessoas nos matariam pensando que estavam prestando um serviço a Deus. Este acontecimento só pode ocorrer dentro de um cenário de pós-verdade, em que a mentira se torna uma arte. (Veja o título de capa do semanário The Economist: “A arte de mentir”).

Mas esta falácia não é exclusiva das redes sociais, a grande mídia abraçou a mentira de que Sadan Husseim tinha um grande estoque de armas químicas e que Kadaffi representava um perigo para o mundo e sob este pretexto arrasaram com a Líbia e o Iraque.

Os perigos que subjazem à pós-verdade são evidentes para todos nós. Corremos perigos como cidadãos e como cristãos. Quando mentiras podem ser abraçadas como verdade, sem nenhum critério, a sociedade como um todo está em risco, os próprios valores que construíram e sustentaram a nossa civilização estão ruindo rapidamente diante de nossos olhos.

Os bereanos trazem um ensino importante para nós: quando ouviram Paulo, foram verificar se o que ele ensinava constava nas Escrituras Sagradas. A Bíblia diz que eles foram mais nobres que os de tessalônica justamente por procurarem comprovar se o que lhes era ensinado era realmente verdadeiro.

Quando jovem presenciei uma divisão entre os presbiterianos e batistas, depois entre pentecostais e tradicionais. Hoje vejo claramente que o grande divisor de águas no mundo cristão é a Bíblia, a Palavra de Deus.

Há igrejas que são bíblicas, pregam as Escrituras e se esforçam em praticá-las, e há aquelas que a cada dia mais se distanciam das verdades sagradas.

Não basta que cada cristão vá a igreja, ouça sermões, estudos bíblicos, orações; é preciso ir além disso, é imprescindível que cada cristão aprenda a fazer estudos bíblicos e busque a verdade. Na televisão, um mundo de fantasias surge diante de nossos olhos. Muito do evangelho televisivo se encantou com a forma como a mídia manipula a informação, e tornou-se sua irmã gêmea, um engodo, falsidade, mentira, é a igreja corrompida na era da pós-verdade. É evidente que há exceções.

Não nos enganemos, a era da pós-verdade prenuncia o reinado do príncipe deste mundo, da mesma forma como ele está, através da mentira, levando homens a guerra – caso do Iraque e Líbia –, levando nações a tomarem decisões importantes induzidas por notícias falsas – caso do Brexit e da eleição de Trump. Ele está levando pregadores descompromissados com a verdade à desconstrução do evangelho, outorgado por Jesus Cristo e que foi seguido pelos apóstolos e pelos pais da igreja.

O cristão que deseja ser esclarecido, não deve deixar-se enganar, deve voltar-se para o testamento que Cristo deixou para nós, um chamado velho outro novo, mas ambos igualmente importantes e que compõem o nosso querido livro sagrado – a Bíblia.

Dediquemos todo esforço não somente a lê-la, mas a estuda-la, com oração, ouvindo o seu fiel intérprete – o Espírito Santo.

Sendo assim, temos mais concreta a palavra dos profetas, e fazeis muito bem em prestar atenção a ela, como uma candeia que brilha nas trevas, até que todo dia se ilumine e a estrela da alva nasça em vossos corações. Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, porquanto, jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens santos de Deus falaram da parte de Deus, orientados pelo Espírito Santo.” II Pedro 1. 19 a 21.

                        A Era da Pós-Verdade torna-se assim um desafio maior para nos tornarmos mais apegados às verdades reveladas e, de modo algum, nos desviarmos delas.

O JORNALEIRO
02/02/2017

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