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NÃO APENAS OS PÉS…

Publicado em 20 de setembro de 2023

Não apenas os pésApós a ceia Jesus começa a lavar os pés dos seus discípulos. Pedro, porém, se recusa a permitir que o Mestre o faça. Jesus lhe diz, “se não lavar seus pés não tens parte comigo”, e Pedro responde: “Não só os pés, mas o corpo todo.”

A tecnicidade teológica dos nossos dias tem matado a igreja. Vejamos alguns exemplos: “o arrependimento surge automaticamente, sem que seja buscado.” Os crentes não são exortados a pedirem a graça do arrependimento. Não o experimentam no decorrer da vida cristã. Não vivenciam da “tristeza segundo Deus” que na verdade é a tristeza do Espirito Santo comunicada ao nosso coração quando pecamos.

Como os cristãos também não aprendem a orar sem cessar, também deixam de ouvir a voz de Deus nos seus corações e não percebem a ação nefasta do pecado em suas vidas.

A busca por arrependimento nos ajuda em muito a sanar essas nossas deficiências espirituais. Orar pedindo arrependimento e experimentá-lo é uma preciosidade. Ao orarmos nesse sentido nossos olhos são abertos para os pecados que nos rodeiam e recebemos poder de Deus para confessá-los e abandoná-los.

Outra tecnicidade teológica – Batismo com Espirito Santo e com fogo. Uns ensinam que acontece na conversão, outros, após. O tecnicismo teológico ensina que ele não se repete, mas onde está escrito que não? E ainda que estivesse escrito qual o mal de pedir que ele aconteça todo dia na nossa vida?

Penso que tudo que a Bíblia ensina não é de natureza estática, mas dinâmica. A Palavra está acontecendo a todo momento em nós desde que a queiramos e a busquemos.

Gosto de tudo na Bíblia, mas me chama muita atenção o que Cristo disse: “Se vós estiverdes em mim e as minhas palavras estiverem em vós pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito”.

Minhas palavras em vós, tudo que Deus falou. Se essas palavras estão em nós que efeito elas produzem nas nossas vidas? Elas estão sendo vivenciadas a todo instante?

“Não somente os pés…” Não somente uma vez, mas sempre. Porventura quando o texto diz “com fogo” não se refere à purificação? Não preciso do poder do Espirito Santo para vencer o pecado? A vinda desse poder extraordinário em mim não é Jesus me imergindo, “me afogando”, “me embriagando” no Espírito Santo – e isto não corresponde a um glorioso batismo?

E quando orarmos Deus nos dará o que pedimos ou o que necessitamos?

Os mestres de Israel ensinavam a letra, mas Jesus ensinou que sua PALAVRA é espirito e vida. O tecnicismo teológico rouba-nos o frescor da Palavra em nossas vidas.

Abaixo a teologia? Não, mil vezes não! Ela nos faz muito bem quando desenvolvemos junto com ela a teologia “dos joelhos”, “do coração quebrantado”, “filhos pequeninos dependendo inteiramente do pai”.

Não são os teólogos a dizer a última palavra, mas um andar no Espirito que nos leva a aprender com Deus, a navegar pela fé, em meio ao nevoeiro desse mundo tenebroso.

O JORNALEIRO
20.set.23

LÁZARO

Publicado em 12 de setembro de 2023

LázaroA biografia dele é pobre em detalhes, mas riquíssima em significados. Sua casa, à porta do rico, seu menu diário, migalhas, seus amigos e seu bálsamo, os cães. Como ser feliz vivendo em circunstâncias tais? Mas ele era.

Entender Lázaro é o maior desafio para qualquer um de nós. Ele guarda um segredo profundo, quase inescrutável. Deus se agradou dele, tanto quanto se agradou de Enoque cuja biografia também é por demais sucinta: Enoque andou com Deus e Deus para si o tomou.

Sua vida me revela o quão longe estou da humildade de Jesus Cristo e me traz profundo quebrantamento. Ele morreu e foi levado pelos anjos. Estava à porta do rico vivendo de migalhas, estava à porta dos céus vendo a glória que o esperava.

Não é por ser pobre que a Bíblia marca a sua trajetória sobre a terra, mas pelo que estava no seu coração. Ver sua alma é ver o que agrada a Deus

Não murmurava. Israel no deserto, comendo maná e codornizes, com roupas que não envelheciam, ar condicionado à noite e de dia, porque no calor do deserto a nuvem que os acompanhava dava sombra e descanso, o fogo à noite aquecia as noites frias. Esses sinais marcavam a presença de Cristo na vida do seu povo, mas este mesmo povo vivia se rebelando contra Deus, insatisfeito com tudo de bom que recebia.

Agradecia ao rico permitir estar a sua porta, agradecia a Deus por simplesmente estar ali, comer o seu pão de cada dia, migalhas, não se revoltava vendo tanta gente ostentando riquezas mundanas entrando e saindo daquela mansão.

A ninguém invejava. Não maldizia a sua sorte. Não esbravejava. Ao relento, tomando chuva ou enfrentando o sol escaldante, pouco lhe importava, o Senhor era sua alegria e riqueza.

Seus amigos eram os cães. Por que vinham para junto dele? Porque com eles repartia as suas migalhas e eles lhes demonstravam gratidão lambendo suas feridas, eram o balsamo para sua dor.

Quantas noites enluaradas ouviram sua prece candente, languida e triste, um lamento logo substituído por canções de amor ao Deus de Abrão, Isaque e Jacó, o Deus dos vivos e não de mortos. As estrelas recolhiam suas preces e cânticos e os depositavam aos pés do que está assentado no trono.

Sansão empolga pela sua força, Davi pela coragem contra Golias, Paulo pela sua teologia, João pelas suas mensagens de amor, mas Lázaro empolga pela sua fraqueza, o seu abismo, sua força contra a miséria, coragem suportando a ostentação, sua teologia do sofrimento, sua mensagem muda de um amor saído das feridas e das chagas.

Levanto-me em guerra contra mim mesmo e grito – Tenho coisas demais, conforto demais, não precisaria de nada disso, tudo é vento e desperdício! Ó insatisfação que nunca tem fim, desejos que nunca cessam! Jamais conseguirei viver feliz sendo Lázaro, nem mesmo como o rico.

Meu Lázaro Jesus, me ensina a conviver com este desafio – de saber que nunca o agradarei como Enoque ou como Lázaro, que nunca farei o que tu fizeste, mas a confiar de todo coração que sabes quem eu sou “um pobre e necessitado” de virtudes, amor, esperança e fé. Mas apesar de tudo isto tu me redimes se colocando no meu lugar e dizendo – “Eu sou tudo o que você não pode ser”, “Eu sou tudo que lhe basta”, abraça-me, filho, sou Eu que o Pai vê quando olha para você, porque me fiz Lázaro por você, me fiz pecado e maldição. Sou em você tudo que você não pode ser.

O JORNALEIRO
12.set.23

O QUE IMPORTA?

Publicado em 3 de setembro de 2023

O que importaO que importa?

Ser calvinista ou arminiano,

Católico,

Ou protestante?

Diante do trono do juízo

Que pergunta ouvirei?

Me cobriste quando nu?

Em cadeias me visitastes,

Pão não me olvidastes?

 

Pregador eu fui, também pastor,

Mas não amei,

Palavras e mais palavras

Nada mais.

Nenhum socorro ou ato de misericórdia.

Sem compaixão,

Assim é religião.

 

De Cristo, o exemplo quem segue?

Do alto do penhasco da vaidade fazem o seu púlpito

E gritam:

Pecadores, todos pecadores, ao inferno, as chamas vos esperam.

A cruz, onde está a cruz?

Proibido usá-la como símbolo

Longe dela também o coração.

Morrer para viver é utopia

Porque Calvário, se temos prazeres, diversões,

Carrosséis de ilusões,

Paixões deletérias?

Comer, beber, folgar é nosso lema,

Longe de nós o mendigo, o pobre, o nu.

Não vos conheço, nos dirá Cristo,

Mas, cantamos, pregamos, congressos, livros,

A Bíblia decoramos.

Mas corpo em sacrifício vivo,

A cruz pesada, os pregos,

Onde estão tuas feridas,

Tuas chagas, as marcas em tuas mãos?

Fostes mais que teu Senhor,

Com ele não quisestes sofrer pelas ovelhas que te dei,

Não as do aprisco,

As desgarradas gritando de desespero e dor.

Penoso,

Triste,

Será ouvir – Não vos conheço.

 

O JORNALEIRO
03.set.23

TEREZINHA, NOSSA IRMÃ

Publicado em 28 de agosto de 2023

Terezinha, nossa irmãEu a conheci quando fui pastorear a igreja de Pirajuí. Eram 14 mulheres e dois homens. Durante todo o tempo em que estive lá ela foi a tesoureira. Vez por outra quis desistir, mas eu a incentivava a continuar e assim, foi se firmando na tarefa de controlar as contas da igreja e muito me ajudou carregando essa responsabilidade.

Seu legado foi de honestidade e amor à obra de Deus. Também deixou uma filha maravilhosa, Andréia, que herdou toda a fibra e coragem de sua mãe. Seus problemas neurológicos durante o final da vida em nada desmerecem tudo o que fez e viveu como serva do Senhor.

Imaginem como era difícil ficar numa igreja pequena, cheia de problemas e com muitas feridas provocadas por divisões e má gestão no trato com as ovelhas. Terezinha, porém, fazia parte de um grupo de quatorze mulheres que não abandonaram o barco, mas mantiveram a chama da fé apostólica acesa.

A igreja de hoje em Pirajuí deve muito a essas corajosas mulheres. Os rostos de cada uma delas continuam presentes em minha memória e em meu coração.

Acompanhei um testemunho vibrante da irmã Terezinha. Ela trabalhava em um setor administrativo da Prefeitura. Um novo prefeito assumiu e resolveu coloca-la para varrer as ruas da cidade. Nossa irmã passou por um longo período de sofrimento e humilhação, mas venceu.

Com o decorrer do tempo houve uma nova mudança na administração municipal e ela retornou a seu lugar de origem.

Morava numa casa de tábuas. Incentivei-a a ter fé, que Deus haveria de lhe dar uma casa melhor. Não muito tempo atrás, ao visitar nossa igreja em Pirajuí, ela insistiu comigo para ir à sua casa.

Era de tijolos, linda, agradável e ela me lembrou do incentivo que lhe dei. Por todos esses detalhes, e mais, pelo esforço que fez para educar sua filha e lutar para que ela tivesse uma posição de honra em sua profissão, temos uma viva demonstração da eficácia da sua fé.

Jamais me esquecerei dela e de sua filha, embora pouco contato tenhamos mantido, em razão de nossos afazeres. Não pude ir a seu velório, mas ela está presente em minha lembrança e em meu coração.

O inimigo ataca ferozmente determinados crentes e sua morte equivale a de um mártir. Assim foi com Terezinha.

A Deus aprouve permitir seu sofrimento inexplicável, mas dentro de Sua sabedoria inescrutável.

Até breve, querida irmã Terezinha!

O JORNALEIRO
28.ago.23

À BEIRA DO CAMINHO

Publicado em 23 de agosto de 2023

À beira do caminhoTexto Bíblico: Marcos 10: 46
(Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado, à beira do caminho (à margem), mendigando.)

 

Marginal,
Não no caminho,
Perto, no entanto,
Bem ao lado,
Mas marginal.

 

Bandido para a polícia,
Da sociedade banido,
Ninguém o quer,
Ama ou procura.

 

Bartimeu, o cego,
Marginal,
À beira do caminho.
Sem ver, mas querendo ser visto,
Não amado,
Não querido,
Mãos estendidas,
Uma esmola de carinho,
Um tostão de atenção.

 

Marginal também quero ser,
Estar à beira do caminho,
Esperando para dizer:
Até os cachorrinhos Senhor,
Uma migalha,
Apenas uma migalha!
“Se é isso que me pedes,
Se tão pequeno te colocas,
Para os que choram nos portais,
Por mim suspirando,
As bênçãos que estão nos céus,
Todas são
Dos pobres marginais
Que batem à minha porta”

 

Senhor sou marginal!
“Agora não mais, não lanço fora,
A quem a mim vem!”
“Eis as mãos feridas que te salvam,
Eis o flanco ensanguentado que te cura,
Eis os espinhos da minha fronte…
O preço foi pago,
És um redimido.“

 

Saio das aguas do rio da vida,
Purificado,
Liberto,
Salvo,
Não mais à beira do caminho,
Mas no caminho,
Olhando o que me espera,
A herança eterna dos que deixaram de viver na margem,
Entraram no rio…
Águas vivas,
Saídas do Trono,
Para ao pé do trono me levando.

 

O JORNALEIRO
23.ago.23

EVANGELISMO PESSOAL

Publicado em 17 de agosto de 2023

Evangelismo pessoalA experiência foi tão prazerosa que decidi relatá-la aos queridos leitores. No meu ministério como pastor dedico-me ao preparo de líderes promissores. Como parte desse labor levei meu pupilo para uma ação de evangelismo pessoal.

            A manhã estava fria, o sol não estava querendo dar as caras. Fiz o seguinte comentário: Quando o tempo está assim geralmente é difícil pescar – é o que dizem os amantes da boa pescaria.

            A rua estava com pouco movimento e fomos em direção a um supermercado, com esperança de encontrar pessoas para falar das boas novas.

            Olhei o ambiente e não fiquei muito animado, mas ao atravessar o local, passando para uma outra rua – que surpresa! – era uma rua de comércio.

            Encostado em uma grade estava um senhor que olhava o pátio do mercado. Aproximei-me dele e comecei a puxar conversa.

Um real para cada pensamento seu! Ele me disse que estava pensando em seus problemas.

            Perguntei-lhe o nome – Paulo, ele me disse.

            Fiz outra pergunta – o senhor conhece alguém importante com esse nome?

            Pensou um pouco e respondeu – Paulo de Tarso.

            Que bom, o senhor tem uma cultura bíblica. Onde aprendeu sobre isso?

            Na macumba, sou macumbeiro – respondeu.

            Mas lá ensina a Bíblia?

            E o Pai Nosso, disse-me ele, querendo dizer até onde tinha chegado.

            Bom, muito bom, disse eu. Pai nosso, expliquei, dá uma ideia de proximidade, alguém que nos acolhe, abraça, e nosso diz que ele é nosso pai e pai dos que o amam. Mas a expressão céus mostra quão grande e infinito ele é.

            Novamente ele me surpreendeu e disse – Ele está acima de tudo.

            Também me disse que trabalhou como obreiro na Caverna de Adulão, entidade que se dedicou, por muitos anos a ajudar dependentes químicos.

            Citei João 3.16 para ele, deixei com ele o endereço de nossa unidade no Petrópolis, também orei, e incentivei-o a buscar a Deus.

            Após isso, continuamos nossa caminhada pelo bairro. Entrei em um bar. Só havia uma moça atendendo. Vivian, o nome dela. Pedi uma coxinha e um refrigerante. Tinha feito meu desjejum em casa, e no Petrópolis comi algumas iguarias na nossa unidade. Estava satisfeitíssimo, mas precisava fazer uma ponte, estabelecer um contato. A coxinha foi o começo.

            Falamos sobre seu casamento. Seu marido havia se suicidado. Conversei sobre seu trabalho ali, onde morava, e depois perguntei – Vivian você frequenta alguma igreja?

            Resposta – Não!

            Porque não?

            Falta de vergonha, disse-me ela.

            Estava aberto o caminho para eu dar meu pequeno recado. Terminei citando Jesus: “Vinde a mim, vós que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei.”

            Quando saí, ela estava chorando.

            Fizemos mais três contatos, todos abençoadores.

            Não é empolgante trabalhar na seara do Senhor? Ainda há gente que diz que não quer ser crente de banco, e imagina que servir a Deus é só cantar no louvor, tocar na banda, pregar, liderar ministérios. Mas é mais, muito mais! Prefiro passar o dia inteiro fazendo evangelismo pessoal a pregar dez sermões.

            Até outro dia, quando novamente vou sair com meu amado discípulo semeando a Palavra.

O JORNALEIRO
17.ago.23

Manhã com o Senhor

Publicado em 5 de agosto de 2023

Manhã com o SenhorA luz entrou pela janela

E o sol encheu o meu quarto,

Enquanto flores aladas voavam por toda parte.

Ouviam-se sons altissonantes de harpas douradas que cantavam

Em explosões de júbilo e louvor.

 

Perguntei – atônito –

O que pode ser isto?

É o Rei chegando para visitar o pobre e necessitado.

A glória divina, ofuscante e bela,

Trazendo a manhã gloriosa

Do novo céu e da nova terra.

 

Perfumes de luzes e vozes de querubins

Permearam a alma

Já quase sem vida.

Não para os fortes é a graça divina,

Mas para os fracos,

Porque é na fraqueza que Deus opera.

É barro que Deus transforma,

O pigmeu torna-se um gigante.

 

Faz-me, Senhor, a cada dia

Mais pó,

Menor que areia.

Quebra-me,

Despedaça meu orgulho.

Que eu possa ver quão pequeno sou.

Leva-me para a manjedoura,

Para as águas barrentas do Jordão.

Oh monte das Oliveiras, quero ouvir os soluços do Salvador por mim!

Cruz ensanguentada, só contigo, preso a ti,

Posso ver o céu se abrir,

E nele entrar.

 

O JORNALEIRO
05.ago.23

ÍNTIMOS, MAS REVERENTES

Publicado em 14 de julho de 2023

Íntimos, mas reverentes 1 (1)

Deus permite que tenhamos intimidade com Ele. As figuras que a Bíblia usa para mostrar como Ele se relaciona conosco, a de um esposo com esposa, filho com pai, pastor com a ovelha, deixam bem claro como ele quer abrir o coração para nós, amar com intensidade, confidenciar verdades inescrutáveis.

Quando oramos é com ousadia, “cheguemos com confiança ao trono da graça”, ou, em lágrimas de arrependimento e confissão, e, muitas vezes com gritos de jubilo e louvores altissonantes. É nosso Pai, é nosso Pastor, nosso Consolador, podemos bater à sua porta a todo instante, a qualquer hora e em qualquer lugar.

Temos o exemplo na Bíblia da mulher que tinha um vaso de alabastro de perfume caríssimo que o quebrou e derramou sobre Jesus e Ele disse que ela estava profetizando a sua morte. Também lavou os seus pés com lágrimas e os beijava em profunda dor pelos seus pecados, arrependimento e gratidão pelo perdão divino.

Às vezes passamos de largo por esta cena. Ela, no entanto, é impressionante. Não me lembro de nenhuma outra passagem da Bíblia que Jesus permite tamanha intimidade com ele. Nasce do perdão a quem muito pecou, na visão dos homens da sua época a que mais pecou, porém, a que mais foi perdoada.

Intimidade que nasce de um arrependimento em que o coração é rasgado – “Rasgai os vossos corações e não os vossos vestidos”, “Chorem sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar e clamem: Poupa, ó Senhor o teu povo”.

Corta-me o coração ver como a mulher é tratada em nossos dias, desvalorizada pela sociedade que a vê como objeto de prazer, mal-amada por maridos que não valorizam o seu afeto e dedicação – não ficarão impunes no dia do juízo.

Serão cobrados pelo talento que Deus colocou em suas mãos para que valessem cada dia mais em honra e dignidade e não adianta dizer que as entregaram ao Senhor como receberam, uma vez que terão de devolvê-las mais amadas –

“Amai as vossas mulheres”.

Jesus permitiu uma intimidade sem precedentes nas Escrituras de uma mulher considerada a mais indigna pelos homens do seu tempo.

Mas nunca devemos nos esquecer que temos de temer e tremer diante d`Ele. Às vezes me surpreendo falando grosso e alto diante do Senhor e uma voz lá dentro me diz – cuidado, se Ele surgisse diante de você agora como o fez a João você cairia como morto!

Quando falar com Ele, lembre-se – pode abrir seu coração, mas com temor, pode ser ousado, mas com humildade, nunca se esqueça com quem você está falando. Não disse Ele a Moisés – “Tira a sandália dos seus pés, porque o lugar que pisas é santo”? E a Jacó – “Quão terrível é este lugar”.

Há ocasiões nas quais temos que ficar até mudos, sem palavras, em estado de profunda humilhação, só curtindo a nossa insuficiência e pequenez. Há um exercício que faço com frequência: fico pensando no cosmos, na imensidão do universo, “quem é o homem mortal para que dele te lembres”?

Diante da grandeza infinita de Deus me recolho na minha pequenez e insuficiência, nada falo, nada peço, só choro baixinho, escondido no âmago da minha alma.

 

O JORNALEIRO
14.jul.23

UM SERMÃO PERIGOSO

Publicado em 11 de julho de 2023

Ums ermão perigoso 1

Assim disse André Valadão:

“Aí Deus fala: Não posso mais, já meti esse arco íris aí, se eu pudesse eu matava tudo e começava tudo de novo. Mas prometi pra mim mesmo que não posso, então agora está com vocês. Vou repetir, agora está com vocês”.

Transcrevo acima, literalmente, as palavras pronunciadas pelo ilustre “pastor” André Valadão, líder máximo da Lagoinha Global com inúmeras igrejas espalhadas dentro e fora do país.

Observações técnicas importantes sobre o assunto em tela:

- Precisamos ter cuidado com a linguagem que usamos ao pregar. Nossa linguagem deve ser polida, sem palavras chulas. A expressão usada “já meti esse arco íris aí” demostra falta de cultura e desconhecimento do vernáculo. Tratando-se de um líder tão importante aos olhos de seus seguidores e de tantos outros crentes de mentes obscurecidas, era de se esperar uma melhor postura.

- O tom usado é de natureza profética: “Aí Deus fala”. É muito sério isso, porque ele está falando como se fosse um profeta que ouviu uma voz vinda do Espírito Santo. Ele expõe um estilo muitas vezes usado, por pregadores carismáticos, mas baseada na Bíblia. No entanto, está longe de apresentar um enunciado estritamente bíblico. Basta acompanhar o significado total da sua elocução para se perceber isso.

- Teologicamente é um desastre. Ele diz, falando como se fosse Deus: “se eu pudesse”, como se Deus não fosse o Todo Poderoso. Para Deus não existe o “se”, ou o “talvez”, o que Ele quer ele faz. O Deus do “se pudesse” não é o Deus “Eu sou”, mas um deus pagão criado na imaginação de um homem que se chama André Valadão.

- Doutrinariamente insustentável. Não é porque Deus estabeleceu o arco íris como sinal de aliança declarando que não destruiria a terra novamente com o dilúvio que Ele não possa destruí-la através do fogo. “Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como um tesouro para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios” 2 Pedro 3.7. A instrução bíblica recebida por esse pastor é completamente insólita e compromete àqueles pastores que “manejam bem” a palavra da verdade. “Procura apresentar-te a Deus, como obreiro aprovado, que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade”. 2 Timóteo 2.15.

- A resposta que ele apresenta como solução para o problema da paixão sexual sem limites, ou seja, a luxúria, não é solução, é um apelo a violência. Lembra a JIHAD, um termo islâmico que significa luta, mas para os terroristas significa uso da violência, até assassinato para impor as suas ideias. Convém salientar que esse significado mais radical é usado só por terroristas, pessoas que deturpam os ensinos da fé islâmica. No caso sob análise a deturpação foi da fé cristã.

- A proposta que ele apresenta como solução é que os crentes assassinem, matem todos os que estão inclusos no pecado do homossexualismo, ignorando que não existe régua que meça o pecado, uma vez que o pecado de xingar o irmão de louco é igual a qualquer outro pecado. “Cobiçar uma mulher” no pensamento basta para ser pecado e creio que dificilmente exista alguém que não o haja feito.

- Aqui apresento bem rapidamente minha visão sobre os problemas de desvios sexuais. Saliento que considero que o apetite sexual sem limites, luxúria, é um pecado afeto à humanidade em geral. Pessoas regularmente casadas podem cometer esse pecado, solteiros, mulheres no caso de mulheres com mulheres, homens com homens, homens com mulheres. O pecado da imoralidade sexual, luxúria, está presente em toda humanidade em quaisquer tipos de relacionamentos de ordem sexual,

O amor não é sexo, mas o sexo deve ser feito com amor. Não existe amor livre porque o amor é responsável. Antoine de Saint-Exupéry que o diga: “Tu te tornas eternamente responsável por quem tu cativas”. No hino ao amor, capitulo treze de primeiro Coríntios, temos uma descrição do verdadeiro amor. Pena que o espaço seja pequeno para melhor expor esse assunto, mas creio que apresentei uma ideia bem sucinta que aponta para a sublimidade do amor que é totalmente diferente das paixões humanas carnais, digam elas a quaisquer tipos de relacionamentos sexuais.

- Finalmente dizer que cabe a nós fazer o que Deus não pode fazer é colocar o homem acima de Deus e sabemos muito bem de quem é esse sentimento de se colocar acima do Altíssimo. “A lei e o testemunho se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” Isaias 8.20. A Igreja precisa estar alerta porque igrejas grandes não significa que sejam puras e bíblicas. Cuidado com o show, muito som, muita música, pouca Palavra e cheia de…sermões perigosos.

O JORNALEIRO
10.jun.23

SOMBRAS E LUZ

Publicado em 29 de junho de 2023

 

Sombra e luz 2Raios de sol viajam

Transpassando folhas macias

De árvores voltadas para o céu azul.

 

Eles projetam no meu caminho

Que desce ao vale,

Luz e sombras.

 

Sombra e luz, quais perfumes

Que flores soltam abrindo as pétalas de suas prisões.

 

Sombras e luz,

Vindas de solares raios,

Cantam uma música

Só para mim.

 

Tudo se amalgama…

Tudo se mistura…

Sombras e luz!

Raios de sons dourados,

Perfume de flores,

Folhas de árvores para o céu voltadas.

 

Sentimentos, sensações, começam a dançar,

Enquanto meus passos vão vencendo

As milhas que o Nazareno andou,

De Cafarnaum a Betânia,

Do profundo azul, ao abismo da terra.

 

Sombras e luz nos pés feridos

Que mesmo sangrando ainda caminham.

No seu andar,

Sombra e luz,

Morte e vida,

Ressurreição e esperança.

 

Ei-lo a caminhar comigo

Na minha vida

De sombra e de luz!

 

As pétalas soltam de suas prisões os seus perfumes,

O túmulo não mais aprisiona e nem detém a vida…

Sombras e luz e raios de brilhos reluzentes,

Voz de muitas águas…

É a vitória da luz sobre as sombras!

E um brado ressoa pelo espaço infinito:

Sou a vida,

Sou a ressurreição,

Quem em mim crer, jamais morrerá!

 
O JORNALEIRO
29.jun.23