A VOZ DO AMOR

25 de março de 2014 / 0 Comentários

DSC02781  Ouvir a voz, mas não palavras, só voz. Doce como um lírio, suave como uma  fonte saindo da rocha bruta, terna como uma pétala de flor, mas forte como o  trovão, como o troar de muitas águas levantando-se em ondas gigantescas, firme,  determinada, serena, assim é a voz do amor.

Podemos perceber que ela vem do vento quando balança suavemente as copas  das árvores, dos passos suaves pisando bem de mansinho um caminho de folhas  secas, sons quase imperceptíveis, mas que penetram no mais fundo da alma e ali  encontram o seu aconchego.

No som da flor ao exalar perfume. Será que podemos ouvir esse som? Ele existirá? Evidente que sim, mas quem o ouvirá? Por certo será tão lindo como a própria flor que desabrocha, e tão penetrante quanto o seu perfume.

Ela está nos cabelos em desalinho da amada, nos pesinhos pequeninos de um bebê, no riso franco do gentil de um senhor grisalho alquebrado pelos anos.

Ela está em toda parte, ao alcance de todos os mortais, é o som do vento impetuoso e forte que enche o cenáculo quando cento e vinte discípulos estavam reunidos, joelhos no chão, coração em soluços, com suplicas e salmos.

Está lá no monte Horebe fumegando, tremendo, sob o poder do Onipotente que fala com Moisés e lhe transmite sua lei gravadas em pedras, mas feitas para o coração.

Está nos espinhos ferindo a fonte do Redentor, no corpo esquálido pendurado numa cruz, impotente e sendo o Todo Poderoso, vencido e sendo o vencedor, oprimido quando libertador, sem lágrimas no rosto, mas peito aberto em ferida atroz, ferida que me salva.

Ela vem de um lugar, além das estrelas, além de todas as galáxias, de uma luz impenetrável, inacessível, mas envolve todo o universo e tudo que há alem dele, atinge os anjos e até os demônios, porque os suporta até o momento final, quem sabe na esperança de que para eles também venha o arrependimento.

Nas densas florestas, nos vales profundos, nos abismos do oceano ali ecoa nas algas, recifes, correntes marítimas, peixes grandes ou pequenos – a voz do amor.

O mortal que ouvi-la não será simplesmente homem, será filho adotivo de Deus, atingido pelo toque divino vindo dessa voz que supera a música, poesia, arte, tudo de belo, inamovível, ou que possa se mover ou existir.

Então, sob o toque do som dessa voz, que é dedo, mão de Deus, – que sem palavras, ama, – passa também a falar a mesma voz, confundindo-se criatura com criador, pai com o agora filho, abraçados na reconciliação do céu com a terra, – “ABA, PAI”.

Não é o mesmo homem, nem poderia ser, porque o ódio foi vencido, a inimizade desfeita, seus olhos carregam o brilho da luz inconfundível que existe alem do sol e das estrelas.

Suas mãos se estendem ao fraco e necessitado, vestindo suas chagas purulentas, interpretando seus gemidos lacerantes, caminhando pela multidão, já não mais simplesmente falando, mas expressando.

É mais que um quadro de arte, mais que uma paisagem bucólica, muito mais que um céu repleto de nuvens multicores, é o Cristo Redivivo na vida de um mortal.

Não só ouve, fala ou expressa, mas interpreta. Agora são sons claros, altissonantes, cheios de vidas e de significado, – “Deus ama, derrama-se em libação de sacrifício” – e eu sigo essa voz que me encanta, que não me deixa viver mais a minha vida, mas a vida daquele que me amou.

“Já não mais eu vivo, mas Cristo vive em mim”.

P.S. Para minha menina, Wilma, de dezesseis anos, do Morais Pacheco, que hoje, 25 de março, faz 68 anos. Descobri-la, também foi descobrir e ouvir a voz do amor, “havendo Deus falado de muitas maneiras”, ainda hoje fala de muitas maneiras.

Voltar




0 comentários