Publicado em 8 de fevereiro de 2014
Um dia desses, andando à toa pela Batista, quis tomar um cafezinho preto. Quem eu encontro, sentado a uma mesa, olhar contemplativo, alienado do mundo?
O Pedro. Fui logo me aproximando, todo sobranceiro, dizendo:
– Oi Pedrão, como vai? tá tudo na crista da onda?
– Tá perdendo o respeito. – Disse Pedro.
– Que isso Pedrão, deixa de onda, sou igualzinho a você.
– Igual no quê? – Respondeu ele.
– Você também vacilou Pedrão. Você lá na fogueira, já se esqueceu, ou quem é do céu se esquece tão rápido das caidinhas da terra? Afinal são só dois mil anos Pedrão. Para uma eternidade, isso não é nada.
– Vacilei apenas uma vez, e você?
– Bem eu….
– Você a toda hora, e ainda dá uma de pastor.
– Tá exagerando Pedrão. – Respondi.
– Cada vez que você deixa de falar de Jesus, você o nega. Cada vez que deixa de agradecer também o nega.
– Toda vez que me levanto, dou graças a Deus, quando vou tomar café, almoçar, minha esposa é testemunha.
– Nem me fale daquela coitada, seu faraózinho de araque, de vez enquanto você lhe dá um beijinho corrido, quase não lhe dá atenção. Vai vendo, cada vez que você sobe naquele carro, é um Deus nos acuda, um anjo vai empurrando a Dona Wilma pro volante. Você lembra de agradecer? Deus lhe deu uma motorista de primeira, porque senão, você já era sucata há muito tempo.
– Tá sendo cruel, Pedrão!
– Quantos anjos você pensa que Miguel tem que contratar cada vez que você sai na estrada sozinho? Você é um perigo, pra você e pros outros. E você agradece? Vai vendo.
– Já que começou, desembucha, Pedrão.
– Eu já terminei a carreira, e você, não sei se vai terminar não. Ora pouco, fica cansado à toa, nada tá bom, sempre desanimado. Desse jeito, suas ovelhas vão subir e você vai ficar aí, a ver navios, navios não, o demo em pessoa.
– Invejo sua carreira Pedro, querido apóstolo de Jesus. Você é um exemplo de verdadeiro pastor, talvez por isso a Igreja de Roma tenha lhe conferido o título de papa, mas o de pastor é superior a todo e qualquer outro título! Ser pastor é ter o dom de sentir a alma e o coração do outro. Você conseguiu captar o que eu escondia quando me aproximei de você, meu sentimento de fracassado. – Disse eu.
– Pera ai meu, não é bem assim. Tá certo que você tava precisando de um corretivo, mas você é uma esperança para muitos. Domingo tá chegando, na hora de você falar ao povo olhe o quanto você é pequeno, para que a mensagem seja infinitamente maior que você. Tão infinita que somente o Nosso querido Jesus possa ajudar você a entregá-la. – Rebateu Pedro.
– Mas o que vou falar de mim? Nada tenho para dar.
– Fale Dele, somente Dele, nada mais. E quando se sentir o maioral, venha aqui conversar com o Pedrão. Pode deixar que eu pago o cafezinho! – Exclamou ele.
O Jornaleiro
Publicado em 1 de fevereiro de 2014
Lampião julgava-se imbatível. Também, pudera, tinha escapado de mil e uma emboscadas.
Resolveu instalar-se em Angico. Uma breve pausa nas suas escaramuças.
Corisco havia-lhe avisado que Angico parecia uma cova para uma sepultura, mas, cabra macho como ele só, vai temer o quê?
Lampião confiava em si, nas suas armas, sua bravura e achava que nunca seria pego.
É perigoso confiar em si, achar que nunca será punido, que a mão do Justo Juiz nunca irá alcançá-lo. Infelizmente, é assim que muitos vivem, agarrando-se em uma falsa segurança.
A Bíblia diz: “Quando disserem agora há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição”
Andar neste mundo sem temer o juízo divino, é uma loucura, é a maior insensatez. Mas é assim, que o homem vive. Pequenos contratempos, enfermidades, acidentes, não abalam a confiança do homem em si mesmo. Não conseguem perceber que os desarranjos de hoje anunciam um juízo que está chegando.
Não percebem que na pedra do caminho há uma escrita – “Lembra-te do teu Criador”.
Andam de acordo com suas vaidades, desejos e paixões, sem nenhum temor, aliás, até zombam de Deus.
Estão seguros de si, Angico é seu refugio.
A volante do capitão Bezerra se aproxima, juriti assustado alça seu voo, o acauã chora um gemido triste, a tropa silenciosa, rifles em riste, pronta para tudo dizimar se aproxima. Lampião descansa, mas a insensatez não perdoa, a imprudência cobra um preço alto aos faltos de sabedoria.
Seguidas rajadas de metralhas fazem tremer o solo seco e morto.
Agora, tudo é silêncio no sertão.
O Jornaleiro
Publicado em 28 de janeiro de 2014
A mulher de Lampião, a julgar pelas fotos, era realmente Bonita.
Fico a pensar o que pode ter levado, uma moça prendada, abandonar sua família e seguir mundo a fora, a sina de um bandido.
Pensar sobre o assunto pode parecer totalmente desnecessário quanto sem nenhuma valia, mas não é, visto que “Marias Bonitas” continuam a se entregar aos bandidos disfarçados de mocinhos.
Amor não foi, porque amor racionaliza, calcula, mede e pesa. Qualquer sentimento que não caminha nessa direção, não pode ser chamado de amor, mas de paixão.
Paixão que é cega, irresponsável, irrefletida e egoísta.
Maria Bonita nunca teve o prazer de sentar-se a mesa e ver uma família, embaixo de uma choça, mais feliz com o calor humano, o afeto sincero, os risos das crianças, o prato quente que a todos une, numa refeição carregada de sonhos.
Maria Bonita nunca colheu flores do seu jardim, nem deu água a um viajante solitário, ou ouviu uma história de outras histórias, de outras amigas.
Passou um cavaleiro reluzente, bastou chamar, pulou na garupa e partiu.
O Lampião de hoje, nem chama Lampião, tem nome bonito, roupas de grife, não vem montado a cavalo, mas em carro importado, tem o poder de compra com o que, até afeto e beijos angaria.
Maria Bonita não pensa, – “esse que diz que me ama” -, ainda ontem sussurrava em outros ouvidos, e quantos sussurros, quantos “te amo” já não a tantos ouvidos falou.
Ele pode ser um empresário, que escolhe suas vitimas, ou o galã da faculdade, ou ainda o riquinho do bairro nobre, mas é Lampião.
Maria Bonita nunca perguntou por que seu marido carregava um fino punhal na cintura. Não precisava, ela sabia. Era pra sangrar seus desafetos. Não bastava bater ou matar, era preciso sangrar.
Sua sangria começa com os beijos que lhe rouba, depois prossegue com sua intimidade que ele devassa, e depois enxovalha sua honra, porque você passa a ser seu grande triunfo, que pelo resto da vida há de exibir em rodadas de bebidas, cigarros, e outras mulheres.
O amor olha o caráter, a paixão olha as vantagens, o amor vê o futuro, a paixão o agora, o amor quer segurança, paixão o prazer imediato, amor pensa na descendência, paixão despreza o afeto natural, o amor tem freios e limites, a paixão desconhece portas ou janelas.
Não aceite ser Maria Bonita, apenas uma boneca, um instrumento de prazer, um descartável! Seja apenas Maria, da beleza que vem da alma, do brilho de um olhar sincero, da simplicidade dos gestos e das vestes, porque enganosa é a graça e a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor está será louvada!
O belo engana, e a verdadeira beleza está na vida que teme ao Senhor.
Maria, espere o seu José. Para todas as “Marias”, simplesmente Maria, sempre haverá um José que virá com outro nome, que não será necessariamente um carpinteiro, mas será homem de respeito,
Homem que ama o trabalho,
Ama a flor,
A criança.
Homem sensível,
Que sabe das coisas do coração.
Homem que conhece o caminho da sua alma,
Nela tocará,
E te fará feliz!
O Jornaleiro
Publicado em 19 de janeiro de 2014
Estava eu numa estrada rural aqui em Pernambuco, indo de casa em casa, conversando e semeando o evangelho de um sítio a outro, numa região chamada Quati.
Uma jovem senhora nos recebeu e lá veio uma história. Enquanto conversávamos chegou Giovanildes, sua mãe. Seu marido está há seis meses em São Paulo. Por empenho dela e de seu marido todos os filhos moram por ali. São umas seis casas distantes uma da outra, mas ao alcance dos nossos olhos.
Com a aproximação de Julia e Mateus fui para baixo de uma árvore frondosa bem à margem da estrada. Um menino lindo de uns dez anos andava de bicicleta, foi quando avistei uma árvore, ainda pequena, com flores amarelas.
Luiz esperto e gentil me respondeu – é a Catingueira.
Foi amor a primeira vista. Comecei a comparar a Catingueira com o cristão. O solo aqui é cheio de pedras. É frequente encontrarmos rochas grandes quebrando o encanto do sertão. No meio de pedras, em solo árido, seco e sem chuvas, lá está a Catingueira com suas flores de amarelo vivo.
E o menino Luiz, esperto como ele só, vai me dizendo que ela é medicinal. Tanto a flor quanto a casca.
Como a Catingueira o fiel cristão deve suportar a secura das igrejas, o solo árido das pregações, a falta de chuva de unção. Não deve depender de organizações, de cultos com musicas febris, da frieza espiritual do povo.
Aqui nesse sertão vejo como é importante pastorear as pessoas sem se preocupar com uma estrutura de local, musica ou equipes de trabalho. Ao passar por um sítio percebo que apenas começamos a semear. Precisamos sempre estar fazendo o mesmo percurso. Conversando e semeando, ouvindo, aprendendo, e sendo bondade e amor para com as pessoas.
Catingueira me ensine a ser cristão, você que é vida no deserto, me ajude a ser vida onde tudo é morte. Na região da sombra da morte a luz raiou.
Deus fala através da natureza. Falou a Jonas através da aboboreira, também me falou através da Catingueira. Quero chamar atenção através das minhas flores vivas, quero exalar o perfume de Cristo, que minha casca cortada, ferida e machucada sirva de cura para muitas vidas.
Minha doce catingueira, nas pedras você nasceu. No meio do deserto você desafiou a morte, e enquanto tudo vai se acabando, você vai gerando novas flores de amarelo vivo. Quero ser como você catingueira do sertão.
O Jornaleiro
Publicado em 19 de janeiro de 2014
Estamos em Pernambuco. Andamos pela zona rural conversando com muitas pessoas. Estamos aprendendo muito com esse povo.
Trata-se de um povo que contenta-se com o pouco e é muito feliz. Não reclamam de nada, nem da falta de chuva. Ao contrário de nós paulistas que estamos sempre insatisfeitos e desejando sempre mais.
Eles não se preocupam muito com o tempo e por isso parece que aqui as horas demoram a passar. Ficamos conversando sem pressa e cada dia mais bençãos nos são acrescentadas através de suas vidas.
Sentei-me numa varanda, batendo um papo com uma senhora chamada Socorro. Aproveitei o seu nome para falar sobre o salmo do viajante e apresentar Jesus como nosso socorro bem presente na hora da angústia.
Na rua seu José, um carpinteiro, me deu uma lição de vida. Ele me disse que se a seca que ocorria naquele lugar acontecesse em São Paulo o que seria dos paulistanos? No entanto, há quatro anos que não chove no sertão e o povo continua firme, otimista, cada vez mais apegado ao seu chão.
Com que ternura eles falam paiinho e mãeinha. Um respeito aos pais que nos comove. Triste é ver meninas de 14 a 17 anos já casadas e até grávidas.
Não apresentam ambições e demonstram uma felicidade mesmo vivendo em situações desfavoráveis.
Por tudo isso a frase que li alhures: “O nordestino é antes de tudo um forte”, lhes cai muito bem.
Até a próxima!
O Jornaleiro
Publicado em 16 de janeiro de 2014
Há nesses dias muitos loucos, pastores que se julgam senhores do rebanho. Tempos atrás um Pastor amigo meu se referindo a outro que por questões morais havia perdido sua autoridade pastoral e por consequência sua igreja, dizia: “ele perdeu um reino”. Observe como pensava aquele Pastor – uma igreja, um reino, onde pastor é o soberano, o rei, o senhor.
Dentro dessa perspectiva pastoral, há pastores que ganham vinte mil reais, cinquenta mil reais, andam de carro importado, e vivem como marajás.
Jesus não agia assim, tinha apenas uma túnica, não tinha um lugar para reclinar a sua cabeça.
Essa situação anômala decorre de um entendimento errado do ministério. Pastorado é serviço abnegado, é humilhar-se e sua autoridade sobre o rebanho decorre e é proporcional ao seu espírito de servo.
Antes de celebrar a ceia, Jesus lavou os pés dos discípulos. Na Páscoa era costume esse cerimonial do lava pés. Era feito pelo servo mais inferior, o menor de todos.
Jesus diante dos discípulos se colocou como o menor de todos os servos.
É isso que o pastor deve ser, não um marajá, mas o menor dos servos. Isto dá autoridade ao pastor, não só sobre o rebanho, mas sobre principados e potestades.
A Igreja perdeu o poder, porque seus líderes perderam a autoridade, não tratam suas ovelhas como superiores a eles, lavando-lhes os pés. Pensam que a autoridade depende do grito, do poder carnal humano, do domínio, porque temem perder posição e privilégios.
A honra do ministério vem da humildade, do serviço abnegado do Pastor, de ser pertence a Ordem da Toalha.
Vamos voltar para o exemplo do nosso Mestre e assim a autoridade Espiritual virá a nós e os poderes do inferno recuarão.
O Jornaleiro
Publicado em 14 de janeiro de 2014
Quando o Filho Pródigo volta arrependido para os braços do Pai, ele diz – NÃO SOU DIGNO DE SER CHAMADO SEU FILHO, MAS FAÇA-ME UM DOS SEUS JORNALEIROS.
Jornaleiro era uma classe de operários da época, que trabalhavam sem ganhar salário, contentavam-se apenas com abrigo, comida e vestuário. Dependiam da bondade dos seus senhores.
Sabemos que o Pai, recebeu o filho e colocou-o num lugar de honra.
Quero contentar-me em ser um jornaleiro.
Nesse blog vamos falar sobre assuntos diversos, teologia, literatura, politica, ecologia, de forma agradável e coloquial.
Somos pastores da Ordem da Toalha, quer dizer, nossa noção de pastorado é de servir, como Jesus lavou os pés dos discípulos, nós queremos lavar os pés daqueles que cruzam o nosso caminho, sejam eles evangélicos, católicos, espiritas, ou de qualquer outro credo, cor ou nacionalidade, porque para enxugar lágrimas, não podemos impor barreiras ou condições.
Não corremos atrás das pessoas para ajudá-las, porque não conseguiríamos abraçar a todas, mas àquelas que cruzam o nosso caminho estendemos nossa mão e nosso amor.
Não trabalhamos sozinhos, mas juntos com o povo de Deus, procurando ser misericórdia e compaixão, perdão e amor.
A Igreja onde sirvo, é uma comunidade de pessoas que servem, seguindo o exemplo que nos foi legado por Jesus Cristo, nos evangelhos.
Semanalmente estaremos com você, no intuito de servi-lo.
Graça que só Deus tem, venha em profusão sobre você. Um abraço.
Edson, o jornaleiro.