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OS DEZ MANDAMENTOS

Publicado em 30 de novembro de 2015

Os Dez MandamentosA novela Os dez mandamentos exibida pela Record se tornou campeã de audiência sobrepujando a poderosa Rede Globo. Muitos evangélicos sinceros ficaram grudados na telinha curtindo cada episódio que explorava as empolgantes narrativas bíblicas.

Até onde ela representou um bem ou um mal. Transmitiu uma verdade ou fantasia? Que influência trouxe para as pessoas que a assistiram.

Trago a lume texto do articulista Eugênio Bucci no jornal O Estado de São Paulo, intitulado “Política e Milagre na TV”. Antes, porém, tenho que frisar que não concordo com todo o artigo, mas com parte dele.

“As novelas, depois de exibidas envelhecem aceleradamente, até virarem fósseis da indústria cultural”.

“Seu brilho é tão intenso quanto passageiro, – a sua arte é o efêmero”. “A novela Dez Mandamentos não foi exceção”.

Uma novela, um filme, romance, ou qualquer outra obra de arte retratando narrativas bíblicas jamais expressarão com fidelidade o texto bíblico, disto decorre que temos que ter todo cuidado ao assistirmos novelas ou filmes que procuram se basear na Bíblia.

Aliás, seria recomendável nem assisti-los.

Os aplausos, entusiasmo, vibração com que muitos evangélicos assistiram a novela deve ser motivo de muita preocupação por parte daqueles que buscam um cristianismo puro e fiel aos ensinos de Cristo.

Por trás da mensagem televisiva está “uma conclamação de engajamento e mobilização social”.

“O Moisés mítico não entrou em cena como personagem antigo, descolado do nosso tempo, mas como um líder político atual”.

“Não é difícil constatar que vem recrudescendo um modelo, por assim dizer, tele-eclesiástico de organização política das massas”.

“Querem o poder e estão quase lá”.

Se a novela contém uma mensagem subliminar, preciso ter o cuidado de não cometer o mesmo erro, porque a intenção é despertar o espírito crítico, um discernimento espiritual.

Deixo ao juízo de cada um pensar qual seria a intenção da novela – glorificar a Deus?

Se assim o fosse deveria procurar expressar a verdade e não a fantasia.

Os heróis da Bíblia são diferentes de todos os heróis cultivados pela cultura humana. São vasos de barro, a excelência do poder não pertence a eles, mas a Deus.

Não procuram comover, nem entreter, mas transformar. Não visam o domínio do mundo presente, porque Jesus deixou claro “meu reino não é deste mundo”.

O seguimento religioso por trás da Record procura e ambiciona o poder terreno, flerta com ele, e usa meios carnais para obter fins supostamente espirituais.

Seriam puras então suas motivações ao explorar temas bíblicos em suas novelas?

O Moisés bíblico não busca o reino de Deus na terra, mas está consciente de que é um instrumento, um detalhe, de uma estratégia celestial que não se limita ao tempo, mas se projeta pela eternidade.

Ele erra no início da sua história, matando um egípcio, e ao final quando deixa de falar a rocha como Deus mandou e desobedece ferindo-a com a vara.

É retrato da nossa fraqueza, mas que se torna forte, mediante a compaixão divina – “a misericórdia do Senhor é a causa de não sermos consumidos”.

Essa misericórdia redime Moisés, coloca-o na galeria dos heróis da fé dizendo que ele ficou firme como que vendo o invisível.

Só na consciência de que somos fracos é que experimentamos o socorro divino e a vitória.

Jesus deu um golpe mortal nas motivações triunfalistas do povo judeu ao morrer como criminoso para redenção da humanidade.

Teria a novela Dez Momentos fins triunfalistas, políticos, sementes de um engajamento social com fins de obter mais poder (do que já tem)? Ou é um meio evangelizador e transformador de corações?

“Dedicam-se ao culto da televisão, esse bezerro de ouro inventado no século 20 que ainda opera milagre no século 21”.

Pelo visto, será muito fácil o Anti-Cristo enganar os incautos.

“Vigiai e Orai”, “o Senhor virá como um ladrão”, ele nos encontrará dormindo, ou com as lâmpadas acesas?

Destaco mais uma frase do já referido articulista:

“A cristianização de um escândalo institucional que seria impensável em qualquer democracia madura – a convergência entre partidos políticos, igrejas e redes de rádio e televisão, numa triangulação promíscua que atenta frontalmente contra os princípios do estado laico.”

A novela infunde numa linguagem sublimar (a nível do subconsciente) do deus “ex machina”, deus a serviço do homem, do humanismo secular (o homem como medida de todas as coisas), desperta um sentimento triunfalista, longe, muito longe do evangelho do Cristo crucificado, poder de Deus e sabedoria de Deus para a salvação de todo aquele que crê.

O Cristo sem lugar para reclinar sua cabeça, de uma só túnica, sandálias nos pés, mãos transpassadas por cravos, continua sendo um desafio para todos nós, para nossa racionalidade, santidade, ao mesmo tempo um despertar da consciência de total impossibilidade de sermos salvos a não ser tão somente pela incrível e arrebatadora graça divina.

No meio caótico em que vivemos somente nos resta confiar nessa graça e nela depositar toda nossa fé e esperança.

Que Deus nos ajude!

O JORNALEIRO

JUÍZO OU AVIVAMENTO?

Publicado em 16 de novembro de 2015

Juízo ou AvivamentoÉ muito bom ver muitos segmentos da Igreja evangélica brasileira se interessando pelo Avivamento. Alegra-nos o envolvimento até de denominações conservadoras levantando essa bandeira.

Sobre esse assunto, porém, tenho algumas dúvidas é até mesmo um contra ponto.

Estou prevendo mais um juízo do que um avivamento.

Preocupa-me a falta de temor que domina os arraiais profanos e “os sagrados”. A bem da verdade, nem se consegue distinguir o que é profano e o que é sagrado. A igreja se mundanizou a tal ponto que cobrar certas mudanças de conduta e comportamento que ferem os ensinos bíblicos provocam estranhamento.

A nação brasileira está corrompida, Isaías, diria que da planta dos pés até os fios de cabelo, não há senão chagas e feridas.

Ainda há bolsões de resistência ao mundo e ao pecado dentro da igreja, mas são tão poucas que suas vozes chegam a ser abafadas. A oração é nossa única válvula de escape, instrumento da graça, para confessarmos pecados, arrepender, buscar a vontade de Deus.

Vejo na minha própria vida a dificuldade para orar, porque as solicitudes da vida clamam por nós a todo instante, os espinhos vão crescendo à nossa volta procurando sufocar a preciosa semente.

Tenho me recusado a atender problemas de ovelhas que são tão repetitivos e tão pequenos que só servem de enrosco. Não querem crescer e nem deixar você crescer.

Sou abençoado com uma boa equipe de colaboradores, deixo para eles vários encargos de pregação, ensino, e todos os que dizem respeito a visitas e aconselhamentos.

Mesmo assim, tenho que me espernear para encontrar tempo para orar.

Costumo cronometrar rigorosamente meu tempo de oração, o tempo que tenho alcançado é de uma hora em períodos descontínuos.

Um dia desses quando alcancei o tempo de quatro horas, foi o dia mais feliz da minha vida.

Mas seria exagero demais dizer que nossos pastores não oraram?

São ativistas, mas não oram. Procuram conhecimento, mas não oram. Criam e copiam métodos. São máquinas foto copiadoras, mas não oram.

E os membros das nossas igrejas?

Nas nossas reuniões de oração de quarta-feira, há um momento de orações de joelhos, rapidinho o pessoal se levanta, não aguenta ficar de joelhos.

Festas comemorativas de aniversário, casamento, e outras de caráter social são um meio de prender você das sete da noite até uma hora da madrugada. E a oração?

Quatro, cinco horas numa festa. Fora o tempo de preparo, cabelereiro, maquiagem, compra da indumentária.

Posso esperar avivamento ou juízo?

Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim.”

Você pode dizer – mas sou comprometido, canto no coral, ajudo no louvor, participo deste ou daquele ministério.

E a oração?

Sem oração estamos colocando fogo estranho no altar e nós sabemos muito bem o que aconteceu aos filhos de Arão.

Se você não ora, meu amigo, você é uma bexiga cheia, bem grandona, não precisa uma seta inflamada do inimigo para lhe derrubar, apenas uma pontinha de uma agulha e você vai explodir.

E as igrejas que fazem reunião de oração e o dirigente fala meia hora, mais quinze minutos de hinos, mais um pouco de falação e depois cinco minutos de oração.

Avivamento ou juízo?

Sei que há igrejas e pastores sérios, mas sei que o quadro geral é este. Quando em retiros converso com pastores, a primeira coisa que pergunto – como é a reunião de oração na sua igreja?

Joel diz (2.13) “Convertei-vos a mim e todo o vosso coração, e isto com jejuns e com pranto, rasgai os vossos corações, não os vossos vestidos…”.

Mas mesmo com isso ele diz “Quem sabe se não se voltará, e se arrependerá, e deixará após si uma benção?”. Observem – Quem sabe Deus se voltará, e se arrependerá e deixará após si uma benção?

Diz mais: “Chorem sacerdotes, ministros do Senhor …” e orem: “Poupa o teu povo, ó Senhor”.

Se fizermos uma analogia histórica entre Israel e a Igreja, veremos que só o remanescente de Israel foi abençoado, só o que passou na fornalha da provação, vide Israel no deserto, as tribos de Israel que desapareceram, sobrando só Judá e Benjamim, depois, Judá no exílio.

E Paulo diz – “Se isto aconteceu com Israel, oliveira natural, o que será de nós que somos oliveira brava e fomos enxertados?”

Paulo diz – “Se Deus fez o que fez com a natural, o que não fará com a oliveira brava que somos nós?”

Nessa hora é preciso ter visão histórica, discernimento espiritual, leitura atenta dos fatos como eles estão acontecendo, olhar introspectivo, e oração, muita oração.

Deus mandou nós olharmos para os céus. As nuvens são claras, límpidas, o céu está completamente azul, ou se avizinham nuvens negras no horizonte?

O que está acontecendo no Oriente Médio, na Coréia, África, Europa? O que os acontecimentos atuais nos falam?

O momento exige que sejamos hermeneutas da Bíblia e hermeneutas da história.

Exige uma exegese do cotidiano e exegese do cotidiano da igreja, submissos ao Espírito Santo, procurando ver com os joelhos no chão e discernir a hora; porque pode estar vindo um temporal sem precedentes dentro da história da humanidade.

Focar no avivamento pode nos tirar a visão de que é iminente a volta de Cristo, antecedida pelo princípio das dores ou pela própria grande tribulação?

No meio do fogo da prova, um remanescente da Igreja pode ser visitado – “e nos últimos dias derramarei do meu Espírito Sobre toda carne”. Um remanescente de Israel será salvo, assim como o remanescente da Igreja será vivificado.

Avivamento ou juízo?

O JORNALEIRO.

DA PRAIA DA ILHA DE KOS – A VOZ DE JESUS

Publicado em 6 de setembro de 2015

0905 aylan4Na praia da ilha grega de Kos, uma criança síria, Aylan Kurdi, de 3 anos, parecia dormir sob o som de uma cantiga de ninar entoada pelas espumas das vagas que iam e vinham sem cessar.

Mas Aylan não dormia, estava morto.

A cena, de tão chocante, foi omitida por alguns jornais. Mas houve também quem a divulgasse, escondendo seu rosto; houve quem a estampasse nas páginas internas, porém alertando os seus leitores quanto à dramaticidade do seu conteúdo.

Uma comoção dominou as redes sociais que impactadas pelo horror, questionavam as razões, clamavam por justiça, ou simplesmente lamentavam. São mais de onze milhões de pessoas – metade da população síria – entre mortos e refugiados da guerra (dados do Estadão).

O governo sírio trava uma guerra em duas frentes: uma interna – contra os inimigos do regime; e outra externa – contra o impiedoso exército do Estado Islâmico que pretende impor um califado na região.

Para fugir da guerra, a família Kurd queria ir para o Canadá. Por não disporem dos recursos necessários, optaram pela Europa como um meio para atingirem seu objetivo.

Contudo, o barco em que estavam naufragou, e as ondas levaram para a praia o corpinho inerte de Aylan.

Os traficantes cobram dois mil euros por pessoa para transportá-las para Europa, e no desespero de fugir dos horrores da guerra elas arriscam suas vidas em frágeis embarcações, viajando preferencialmente à noite para escaparem da vigilância da guarda costeira.

Culpar quem? A insensibilidade dos países europeus que chamam os fugitivos de imigrantes ilegais e se negam a recebê-los? O Estado Islâmico, cruel e desumano, dominado por um fanatismo voraz?

A Igreja brasileira também é culpada, pela nossa omissão, por não intercedermos pelas vítimas das tragédias que acontecem no Oriente Médio e na África.

Temos nos esquecido de que a oração pode mover o mundo, e que nossa luta é contra os dominadores deste mundo tenebroso.

Estamos fechados no nosso mundo de Alice, sem tempo para ver os ataques do inferno contra uma humanidade amada por Deus a tal ponto de dar seu único Filho para sua redenção.

Não choramos por eles – nosso Senhor chorou sobre Jerusalém.

Abandonado na praia o corpinho de Aylan me lembra o menino Jesus na manjedoura. Também foi perseguido, desprezado, deixando sua terra para refugiar-se no Egito. Nosso querido Jesus, um refugiado galileu.

Penso o menino Jesus da manjedoura numa cruz, ainda infante, indefeso, arrancado dos braços de Maria e colocado no madeiro vil.

O nosso Cristo certamente estava naquela praia, morrendo com Aylan, sofrendo com o desespero de um pai que de um só golpe perdeu toda sua família.

Milhares de pessoas em todo mundo foram impactadas pela brutalidade de um mundo sem Deus.

E nós? Choraremos?

Se nos identificarmos com Cristo nos seus espinhos, sim. Mas se estivermos vazios, dominados pelas paixões da nossa carne, pela luxúria dos nossos pensamentos, pela insensibilidade de um cristianismo falido, não.

Estamos, pelo menos, sentindo a dor de milhares de vidas que diariamente fogem da guerra, passando pelo risco de perderem suas vidas, a da sua esposa e filhos, suportando as mais extremas vicissitudes?

Oramos por eles? Ainda oramos?

“A nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas principados, potestades, dominadores deste mundo tenebroso”.

Parafraseando Tozer, este mundo é para nós campo de batalha ou de entretenimento? Estamos lutando em trincheiras ou girando em um carrossel em um parque de diversões cibernético? (Quem tem ouvidos, ouça!)

Por esta causa, diria Paulo se no nosso lugar estivesse, me ponho de joelhos perante o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Choraremos?

O Jornaleiro.

PRÓLOGO DO EVANGELHO DE JOÃO, POR UM ATEU

Publicado em 3 de setembro de 2015

por um ateuNo princípio era o Nada, e o Nada estava no Nada e o Nada era Nada. O Nada estava no princípio com o Nada. Todas as coisas foram feitas por intermédio do Nada e sem ele nada que foi feito se fez.

No NADA estava, e a vida e o nada eram a luz dos homens.

Houve um homem enviado pelo Nada cujo nome era CÉTICO.

Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de que todos viessem a crer no Nada por intermédio dele.

Ele não era o Nada, mas veio para testemunhar do Nada.

Veio para que todos cressem nele, mas muitos não creram, aos que creram deu-lhes poder de serem filhos do Nada, os quais não nasceram da vontade da carne, nem do homem, mas da vontade do Nada.

Por incrível que pareça, esta é a versão da ciência sobre a criação do mundo. Nenhuma inteligência por traz de tudo que está aí diante dos nossos olhos.

O céu cheio de estrelas, constelações, planetas, galáxias, buracos negros… A terra com suas plantas, flores, árvores, relvas, manhãs, tardes, noites, primavera, verão, outono, inverno, aurora boreal, nuvens, chuva, vento, tudo veio do Nada.

Pássaros, leopardos, javalis, ursos, pinguins, baleias, cervos, nascentes, regatos, fontes, tudo feito pelo Nada.

Do Nada, dizem os sábios deste mundo, surgiu um ponto, um pontinho bem pequenino, menor que uma bola de gude. Dentro deste ponto iniciou-se uma grande explosão – surge o universo.

Tudo aleatório, sem nenhuma inteligência a guiar, ordenar, ou dirigir.

O ateu diz que não tem Deus, mas ele tem sim, é o NADA.

Do Nada nasceu o evangelho do niilismo (do latim nihil: nada). O niilismo representa a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê” (Fonte: Wikipedia). Seu primeiro pregador foi Ivan Turguniev, escritor russo, com sua obra “Pais e Filhos”. Depois, Dostoivski, cujo papel foi somente usar o termo para designar o homem negador de valores. Mas quem elaborou sua doutrina foi Nitzsche, que declara que o homem chega ao niilismo quando ele se encontra com a falsidade dos ensinos cristãos.

Surge na mente uma desconfiança total de tudo que o cerca, tudo perde o sentido, o homem percebe que vive para o nada.

Existe uma ciência do Nada, uma religião do Nada, uma filosofia, um evangelho.

Essas ideias se transformam em espíritos que se apoderam das mentes humanas.

O niilismo prega a desvalorização e a morte do sentido, e a ausência de finalidade. Enfatiza, portanto, ser as crenças, as verdades e os valores tradicionais sem fundamento, sentido e utilidade. É a ausência absoluta da fé ou da crença. A oposição radical aos preceitos legais e as instituições formais.

Creio que muitos nos nossos leitores já viram esse filme em muitas mentes juvenis.

Esse conceito pós-moderno, mas que nada tem de moderno, acaba trazendo sérias consequências para a nossa juventude, levando-as a questionarem qualquer tipo de autoridade, seja ela paternal, religiosa ou outra qualquer.

O Nada acaba se constituindo na única explicação para a criação do mundo, única tábua de salvação, único caminho, verdade e vida.

Se adeptos desta teoria, consciente ou inconscientemente (já que alguns são assim por se deixarem iludir pelo espírito do erro), ainda estão de pé, isto se deve à misericórdia divina.

Até quando resistirão? Não sabemos.

O mundo sem Deus considera um absurdo acreditar na Bíblia, em Deus, na cruz, mas não o considera em relação ao niilismo e a teoria “científica” do Nada.

É preciso ter ousadia para crer. É preciso ter coragem para ter fé. É preciso usar a lógica, o raciocínio, o bom senso para acreditar em Deus. A própria inteligência nos levará a ver uma mente inteligente dirigindo a história e o curso do planeta terra.

Não é com os valores dos nossos pais e da igreja que nós devemos romper, mas com as ideias que nós pensamos serem novas e, no entanto, são enlatados trazidos a nós por homens que foram dominados pelo vazio e pelo nada.

“No princípio a terra era sem forma e vazia e o Espírito de Deus se movia sobre a face do abismo”.

Deixemos o paraíso voltar, as flores surgirem na terra, a voz dos pássaros novamente soar. Deixe o Espírito pairar sobre seu vazio, seu nada e, a partir da insignificância do pó, criar em você um novo homem com uma vocação celestial.

O Jornaleiro.

ADOÇÃO – CASAL GAY

Publicado em 17 de agosto de 2015

adoção 2Na Globonews, uma reportagem televisiva mostrou um casal gay com uma criança por eles adotada, em um parque infantil. Uma senhora reagiu indignada com o que via e os interpelou. O repórter fez questão de entrevistar as pessoas que presenciaram o ocorrido perguntando-lhes a razão de não terem se manifestado favoravelmente ao casal.

As pessoas demonstraram ser solidárias com os pais adotivos e se manifestaram arrependidas por não terem tomado um posicionamento em favor das pretensas vítimas.

Este episódio nos dá um vislumbre do que o futuro nos reserva.

Creio que não teria a mesma coragem daquela senhora a ponto de confrontar os gays. Mas se estivesse na mesma situação, em lugar público, iria dar um jeito de me afastar por não me sentir à vontade em repartir o espaço e os momentos de descontração com eles dentro deste quadro.

Há limites para tolerância.

Será praticamente impossível barrar esta tendência de institucionalização de relações heterossexuais e a permissão de que eles usem do instituto da adoção.

O papel da Igreja é de resistir.

O ingresso à Igreja, como sociedade religiosa formal, deve ser bastante restrito.

A porta é estreita – foi o que nos ensinou Jesus – e devemos manter a porta da Igreja estreita também. É preciso que o candidato a ingressar nas fileiras cristãs demonstre submissão à Palavra de Deus.

Passe por um período de serviço abnegado, dando bom testemunho da sua fé e esteja disposto a aceitar a disciplina da Igreja.

Murici, técnico de futebol, tem uma expressão interessante. Ele diz que é preciso fechar a área próxima ao gol para que o adversário não encontre êxito na sua pretensão de ganhar a partida.

Recentemente, também na Globonews, assisti uma reportagem que falava de mulheres lésbicas junto com um parceiro masculino, e famílias com mulheres e homens homossexuais adotando crianças.

Estamos vivendo o tempo do vale tudo.

Em tempos assim devemos pregar o evangelho que começa de dentro da Igreja, pura, zelosa, disciplinadora, que ponha à prova aqueles que dizem ser de Cristo e não são, para um mundo em trevas chamado a escolher entre a pureza e a pecado, entre a vida e a morte.

As leis que a Igreja adota são de uma ética infinitamente superior às leis do mundo porque chegaram até nós por revelação divina.

Nossa posição é de resistência e reafirmação da nossa fé inabalável na Autoridade das Escrituras Sagradas, a Igreja é para aqueles que resolutamente se apegam a estas verdades.

A escolha para uma opção sexual é livre, livre também é a Igreja para dizer quem dela deve ou não participar.

O Jornaleiro.

CASAMENTO GAY

Publicado em 13 de julho de 2015

casamento gayA revista Época, em sua edição de 28 de junho registrou: “A Suprema Corte americana decidiu no dia 26, por 5 votos a 4, que o casamento entre pessoas do mesmo sexo seja assegurado pela Constituição em todo país… A decisão é uma resposta a uma ação que tramitava na Corte, conhecida como Obergefell versus Hodges… O presidente Barack Obama e a pré-candidata à presidência, Hilary Clinton, comemoraram”.

Segue o título da nota da Época: “Casamento gay: nos Estados Unidos virou lei”.

No Brasil ainda não é lei Constitucional, mas segundo a OAB esta é uma tendência jurídica:

A comissão de Direito Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considera uma tendência o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) em reconhecer o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Com 4 votos dos 5 ministros da quarta turma do tribunal, foi autorizado o casamento de um casal de gaúchas, que vivem juntas há 5 anos.

            Para nós essa decisão é mais uma inflexão desse debate no país. O Supremo Tribunal Federal (STF) ter decidido de forma favorável à união estável foi um passo.

            A decisão que beneficia o casal gaúcho não pode ser aplicada em outros casos, porém abre precedente para que tribunais de instâncias inferiores ou até mesmo cartórios adotem posição semelhante”.

Observe que temos uma decisão do Supremo Tribunal Federal decidindo favoravelmente a uma união estável e outra do Superior Tribunal de Justiça dando parecer favorável ao casamento civil para um casal gaúcho.

E a Igreja como fica?

Ela não pode ser enquadrada por crime de homofobia, nem por insubmissão à lei, por se posicionar contra.

O Estado tem sua área de atuação e a Igreja o respeita, mas ela também tem a sua jurisdição, que consiste em sua fé, crença, princípios e valores.

O próprio Estado brasileiro se autointitula como sendo laico. Isto quer dizer que ele não está vinculado a nenhum segmento religioso e que o que é público não pode se misturar com o que é religioso, no que concordamos plenamente.

Mas se a premissa é verdadeira, a recíproca também o é.

O Estado não pode dizer para a Igreja, em matéria de fé, no que ela pode ou não pode crer.

A Igreja crê que a Bíblia é sua única regra de fé e prática. Quando Cristo traz para nós seu ensino sobre o divórcio, Ele diz: “No princípio Deus fez o homem e mulher”.

Cristo diz que Deus criou um homem e uma mulher, e que o casamento é a união de um homem com uma mulher. E o objetivo de Deus é claro – a procriação – “Crescei e multiplicai-vos”.

A Bíblia nos ensina a sermos prudentes. Não é de bom alvitre nos expor publicamente combatendo o casamento gay. Logo mais iremos apresentar a posição da Igreja Católica sobre o assunto. Ela apenas apresenta a doutrina da igreja, com objetividade e clareza, mas sem paixão.

Católicos e protestantes estão perfeitamente alinhados quanto ao assunto em tela.

A Bíblia nos ensina a não entrarmos em debates inúteis que não trazem nenhum proveito. No nosso confronto com o mundo precisamos simplesmente expor o que a Bíblia diz a respeito, sem nos preocupar em convencê-los, uma vez que essa persuasão é obra do Espírito Santo de Deus.

O que é importante no nosso relacionamento com o mundo é apresentarmos o cerne do evangelho. Paulo dizia “nada propus saber entre vós a não ser somente Cristo crucificado, poder de Deus e sabedoria de Deus”.

Além do mais, nosso testemunho deve ser de tal monta que provoque admiração e respeito, abrindo as portas para anunciarmos o evangelho, a saber “que Deus prova o seu amor para conosco morrendo por nós sendo nós pecadores”.

“Vejam como eles se amam”. “Na igreja as pessoas pobres, órfãos e viúvas são assistidos”. “Tudo eles tinham em comum”. Assim nosso testemunho deve se expressar.

Sermos contra o casamento gay não quer dizer que desprezamos aqueles que fizeram uma opção sexual diferente, mas eles não podem participar da comunhão do pão e do vinho, respectivamente o corpo e o sangue de Cristo.

Também não podem ser batizados.

Podem assistir nossos cultos, ouvir a Palavra, nossos hinos, ser apoiados e socorridos por nós, se necessário. Mas não podem fazer parte do corpo de Cristo que é a Igreja. Nela não podem se manifestar, nem terem direito à voz ou participar de suas decisões.

No corpo de Cristo há quem tenha sentimentos e propensão para estas paixões, mas as crucificaram e continuam sacrificando a carne, tornando-a serva e não senhora, por amor a Cristo e à sua Palavra.

Tanto no meio protestante como no católico existe esta situação.

Nas confissões ou aconselhamentos, isto vem à tona, mas permanecem no sigilo dos nossos joelhos, eles podem usufruir plenamente da comunhão da igreja, porque assumiram morrer com Cristo. Devem ser amados e apoiados. E se algo soubermos a respeito, devemos nos calar porque Deus é reto juiz, e a quem mais foi perdoado, mais é amado.

Incluo aqui o posicionamento da Igreja Católica quanto ao assunto, porque é o mesmo dos protestantes que professam a fé deixada por Cristo e pelos apóstolos:

Palavra do Bispo da diocese de Balsas, Dom Enemésio Ângelo ao ser perguntado sobre a posição da CNBB, Papas João Paulo II e Bento XVI:

“Quando Jesus deu a sua vida, morreu na cruz e derramou seu sangue foi em prol dos menores (mais fracos), menos favorecidos e excluídos da sociedade.

Seria totalmente injusto a Igreja condenar uma pessoa que tenha tendência ao homossexualismo, seja homem ou mulher – “Quem não tem pecado que atire a primeira pedra”.

Isso não significa que a Igreja aceita tudo. Compreende, mas não aceita”.

“Parece que ser homem e ser mulher é errado, parece que ser homossexual (praticar o ato) é correto, isso sim é estar errado”1.

Do Jornal L`Observatore Romano, mídia principal da Igreja Católica Romana, frase do padre Frederico Lombardi, porta voz do Estado em editorial da Rádio do Vaticano:

“A igreja católica defende que a homossexualidade não é pecado, mas atos homossexuais, sim”. (Conceito importante)

“Declara também, oficialmente, que os direitos dos gays devem ser reconhecidos, mas as uniões não devem ter o mesmo valor das heterossexuais e nem permitir que adotem crianças” 2.

Em suma, casamento gay vira lei nos Estados Unidos, mas na Igreja, esparramada por todo este vasto planeta, NÃO.

O Jornaleiro.

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1Fonte: www.radioboanoticia.com.br

2Fonte: www.oglobo.globo.com

LAURA É MORTA

Publicado em 1 de julho de 2015

Laura é mortaCom o sugestivo título: “O inferno da bela que o mundo esqueceu”, o articulista Luiz Carlos Merten, do jornal O Estado de São Paulo, em 23 de junho, fala sobre a morte recente, dia 22 de junho, de Laura Antonelli, mito erótico, “considerada uma das mais belas e sexies mulheres do mundo dos anos 70. ”

Foi professora até ser descoberta ao participar como modelo para anúncios da Coca Cola.

Não demorou muito para ingressar na carreira artística, atuando em filmes como O Inocente, de Luchino Visconti, Esposamente, de Marco, outros como Malícia, Minha mulher é um violonsexo. (Fonte: Estadão dia 24/06/2015)

Era bela, mas queria mais. Passou por várias cirurgias plásticas que produziram efeito contrário ao que ela esperava. Drogou-se. Foi presa em 1991, aos 50 anos, por ter em sua posse 36 gramas de cocaína.

Com a vida destruída Laura mandou um recado ao mundo – “Esqueçam-me”.

O título escolhido pelo articulista diz tudo: “O inferno da bela que o mundo esqueceu”.

Fico pensando, o que seria da vida de Laura se ela seguisse a carreira do magistério.

No Brasil de hoje, os mestres são desvalorizados. Mas ainda assim, nessas circunstâncias é melhor do que ver sua vida tornar-se um inferno. As nossas escolhas no presente desenham o nosso futuro. As escolhas que Laura fez na sua juventude determinou a trajetória da sua vida e abriu o abismo da sua sepultura.

Gosto de como Davi fala no Salmo 131:

“Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar, não ando à procura de grandes coisas nem de coisas maravilhosas demais para mim”.

Sempre fiz deste hino minha meta:

“Eu quero encontrar um obscuro lugar na seara do meu bom Senhor, enquanto for vivo sim vou trabalhar em prova do seu grande amor”.

O tema deste hino é: “Eu quero fazer o que queres, Senhor”.

Há coisas que são óbvias em nossas vidas. Não precisamos da voz, de um profeta, psicólogo, pastor ou guru.

Era óbvio que a obscuridade era melhor para Laura do que o brilho dos holofotes.

Mas em busca do que estamos?

De aceitação, reconhecimento, aplausos, paparicações? Nosso Mestre nasceu em uma aldeia, em Belém, morou em uma cidade pobre, Nazaré, o que levou Natanael a exclamar quando ouviu falar de Jesus – “Viria alguma coisa boa de Nazaré? ”.

Creio na transcendência, porque Deus é transcendente. Ele nos levanta do pó e nos dá um espírito, arranca-nos de um corpo mortal e nos dá um corpo glorificado, nos tira da região da sombra da morte e nos eleva às regiões celestiais.

Muitos estão vivendo esta fase de escolhas e decisões. “Multidões e multidões no vale da decisão”.

Devemos ter cuidado com a sedução do sucesso, poder, fama, dinheiro, sexo, aceitação e reconhecimento terreno.

Laura é morta. No lugar da fama, glória e reconhecimento – o inferno em vida. Jaz agora na vala comum do esquecimento.

Neste tempo de escolhas, oportunidades, perplexidades, decisões, saiba que sua escolha definirá o seu futuro. Pense em Laura, no que ela podia ser e no que ela se tornou.

“A Donna belíssima se tornou uma aberração”. “Para fugir do seu próprio rosto no espelho começou a se drogar”. “A bela virou fera na suíte de experiências com o seu próprio corpo”. (Fonte: Estadão, dia 24/06/2015)

Suas insatisfações com tudo e com todos – marido, filho, status, igreja – poderão deformar não só o corpo, mas a alma.

Em um dos versos de Fernando Pessoa, ele diz: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

A alma não é pequena quando ela se acomoda ao plano soberano de Deus, à missão que Deus lhe deu: de ser a mão do Pai estendida para o próximo, uma pequena vela dançando na escuridão, um som, uma palavra, uma voz, que marca no outro a presença divina, o toque criativo e transformador de Deus que nos leva a transcender do pó para a glória. Por isso, pequenina ação ou atitude nossa pode deixar marcas da passagem de Deus pela história da vida humana.

A nossa história, dependendo das nossas escolhas, será como a de Abel, que mesmo morto ainda fala; ou como a de Caim, fugitivo, carregando uma maldição sobre seus ombros.

Defina hoje, o que você será amanhã.

O Jornaleiro.

PERSEGUIDOS PELA INTOLERÂNCIA

Publicado em 24 de junho de 2015

perseguidos pela intoleranciaA Igreja Episcopal Metodista Africana, Charleston, Carolina do Sul, Estados Unidos, é frequentada só por negros. Ela se desenvolveu historicamente como sendo de escravos africanos. Seus descendentes não podiam rezar ao lado de brancos nem ocupar posições de liderança em igrejas brancas. (Fonte: Revista Veja)

Na última quarta-feira, 17 de junho, o jovem Dylann Roof, 21 anos, entrou calmamente nesta igreja, onde foi recebido com amor, e sentou-se para ouvir um estudo bíblico. Ninguém poderia imaginar a tragédia que estava prestes a acontecer, vitimando nove pessoas e trazendo consternação à toda sociedade norte americana, a ponto de levar Barack Obama a afirmar:

“Em algum momento nós, como país, teremos de encarar o fato de que esse tipo de violência em massa não acontece em outros países desenvolvidos”.

A motivação para o crime foi ódio racial como declarado por Dylann em manifesto escrito: “Negros têm QIs mais baixos, menos controle de seus impulsos, e níveis mais elevados de testosterona em geral”. “Essas três coisas são uma receita para comportamento violento”. (Fonte: Jornal O Estado de São Paulo)

Dylann se coloca como o salvador do planeta, vendo nos negros todos os problemas da humanidade. Segundo o jornal Estadão, “ele se dizia disposto a se aliar aos moradores do nordeste da Ásia e … a salvar brancos que vivem em países latinos, entre eles o Brasil”. (Fonte: Jornal o Estado de São Paulo)

Mas na Europa, em estádios de futebol, por exemplo, e no Brasil, pessoas são perseguidas pela intolerância racial, religiosa, e por razões de opção sexual.

Os cristãos, quando perseguidos por intolerância, não devem confrontar o(a) perseguidor(a), mas regozijar-se em Deus, pois é assim que nos ensina Jesus em sua Palavra. Devemos ser tolerantes com todos os homens sem, contudo, compactuarmos com os seus pecados.

Extraímos o seguinte relato do articulista Carlos Heitor Cony, do Jornal Folha da Tarde:

No Brasil de 2015, a intolerância religiosa está mostrando a sua face em ataques a terreiros, cemitérios e até crianças”.

“Em poucos dias, fanáticos apedrejaram uma menina de 11 anos que voltava de um culto de candomblé, danificaram o túmulo do médium Chico Xavier e atacaram um templo carioca de umbanda, destruindo a imagem de uma santa”.

“Os episódios ocorreram na mesma semana em que a Câmara começou a discutir um projeto que transforma o “ultraje a culto” crime hediondo”.

“No texto, o deputado evangélico Rogério Russo ataca a Parada Gay e afirma que o país vive uma onda de Cristofobia”.

“O clima de ódio é alimentado por pregadores radicais”.

Novamente saliento que o cristão deve receber os atos de intolerância, quando contra ele desferidos, como uma ovelha muda, imitando o Nosso Senhor Jesus Cristo. Deve também ouvir a sua recomendação de não responder ao mal com o mal e regozijar-se quando perseguido.

Como cristãos é nosso dever recusar qualquer sentimento de rejeição às pessoas, não alimentar nenhum tipo de intolerância. Dentro da Igreja assistimos com tristeza intolerância entre irmãos, líderes e pastores.

Alimentamos mágoas eternas, antipatias perenes, males que nunca são curados. Ficamos horrorizados ao sabermos de agressões e até assassinatos gerados pela intolerância, mas não conseguimos olhar para dentro de nós e vermos quanta animosidade, espírito faccioso, antipatia, malquerença, ressentimento estão guardados nos nossos corações.

Será que alguém poderá dizer diante de Deus – desse mal eu não padeço?

Acredito que não. Todos nós somos igualmente culpados. Declara-nos a Bíblia, em Romanos: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Devemos nos ver, por mais absurdo que pareça, na pele de Dylann Roof, nas mãos dos que jogaram pedras na criança que saia de um culto de candomblé, nos vândalos que atacaram o túmulo de Chico Xavier.

Só conseguiremos nos salvar desta geração perversa, se soubermos olhar para nós e gritarmos: – “Miserável homem que sou, quem me livrará o corpo dessa morte? Quem me libertará? Quem provocará uma catarse[1] dentro de mim me libertando dos meus demônios, do espírito de Caim?”

Nossa libertação deve ser diária. Nossa peregrinação ao Calvário deve ser constante. Só morrendo na cruz é que vivemos. E esse morrer deve ser tudo que somos e pensamos, de todos os nossos desejos e paixões. Se não for diária e dolorida, não é morte.

“Cada dia morro”, dizia o apóstolo. A todo instante há uma fera dentro de nós para ser vencida, uma intolerância, uma antipatia, uma malquerença, um rancor, um ressentimento, um ódio.

Não sejamos intolerantes. Pertencemos a uma Igreja que sofreu toda espécie de aflições, martírio e morte. Por sermos vitimados pela intolerância, nossa história traz um rastro de sangue.

Saibamos, também, a agir como Cristo agiu ao ser perseguido pela intolerância, como ovelhas mudas, para não sermos seus protagonistas.

“Bem aventurados sois, quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo disserem todo mal contra vós”.

“Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim perseguiram aos profetas que vieram antes de vós”.

O Jornaleiro.



[1] Catarse é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou a psicanálise, que significa “purificação”, “evacuação” ou “purgação”. Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama (Fonte: Wikipedia).

PRECE DE UM PEREGRINO

Publicado em 17 de junho de 2015

prece de um peregrinoI

Senhor,
Por que sou assim?
Tão inconstante,
Intercalando momentos de unção com os de frieza e apatia?
Ora estou contigo no monte da transfiguração, para logo em seguida
No árido deserto, à mercê do meu adversário,
Que de mim zomba e ri.
No tornado da minha fraqueza rodopio sem parar,
Perturbado pela descrença,
Vencido pela desesperança.

II

Olho para os montes das oliveiras,
Não encontro forças para subi-lo,
Minha língua presa,
A garganta seca,
Só de minha alma – o grito –
Socorra-me, Senhor.

III

Não compreendo,
Não entendo,
Por que não sou como os apóstolos:
Pedro, ousado e destemido,
Enfrentando as multidões, com voz de trovão:
“Vós crucificastes o Filho do Deus Vivo”.
Paulo surfando pelo Mediterrâneo,
Enfrentando vagas revoltas e tempestades cheias de raios trovejantes,
João, do amor irresistível,
Da fé e da visão de Patmos.
Sou como Marcos que decepcionou Paulo,
Um Timóteo cheio de debilitações físicas
À procura do reconhecimento de sua liderança.
Tomé incrédulo, querendo ver para crer.

IV

“EU TE FIZ ASSIM”.

V

Recuso-me a receber essa como sendo Tua voz,
Tua mão me teceu no ventre de minha mãe,
Para eu ser assim?

VI

“EU TE ACEITO ASSIM E SÓ LHE PEÇO QUE CONFIE EM MIM”

VII

Não compreendo, Senhor.

VIII

“NUNCA COMPREENDERÁS
QUE MEU AMOR NÃO TE VÊ FRACO,

MAS FORTE EM MIM.
MEU AMOR NÃO TE CONDENA,
PERDOA,
NÃO TE REJEITAS, TE ABRAÇA,
CONFIE EM MIM.”

IX

Senhor, que mais posso dizer?
Sem entender…
Compreender…
Lanço-me aos teus pés,
Abraço-te contra o meu peito,
Sem aceitar o que sou,
Mas a confiar no que TU ÉS.

O JORNALEIRO

IZABEL

Publicado em 8 de junho de 2015

Izabel           De manhã sempre a vejo, varrendo a calçada da casa vizinha, de frente à minha. Lenço branco na cabeça, corpo franzino, tez escura, com seus braços finos tangendo a vassoura como se fosse uma arpa.

Izabel é para mim é um anjo, mistura de simplicidade e inocência, respondendo ao cumprimento com respeito e alegria.

Fico muitas vezes preso àquela imagem que me deslumbra tanto, a de um ser humano que faz das tarefas comuns da vida uma obra de arte.

Se um dia for ao céu, após a morte (se é que o céu existe … estou falando para crentes e descrentes, de todas as religiões do mundo, até mesmo para os sem Deus, embora não saiba se isso é possível), gostaria de ver Izabel lá, de vez em quando, varrendo as calçadas de ouro e cristal.

Isto me leva a refletir sobre o que deixarei de ter no céu, considerando o pensamento religioso sobre a vida futura, que vai do totalmente profano, com virgens aguardando o homem bomba até  um mundo totalmente espiritualizado.

Nunca mais sentirei aquele friozinho gostoso ou experimentarei um dia com garoa, não vou dar mais uma gostosa gargalhada.

Não que queira um churrasco no céu, mas um caldinho de cenoura com mandioquinha, um prato de lentilhas, coisas que consigo fazer, que me darão saudades.

Estou com o pé imobilizado, uma torção, passei uma noite sem dormir sofrendo dores, nunca mais uma dorzinha, que me faça  sentir humano?

Bem se for assim quero curtir emoções que são puras, paixões dignificantes, vivenciar tanto a dor quanto o riso, procurando extrair de tudo que não é impuro um sentido eterno, já que nunca mais as experimentarei.

No céu não haverá lembranças das coisas passadas, diz a Bíblia, e creio nela. Mas a que lembranças se referem? A todas, sem distinção?

Quando se estabelecerem as fronteiras eternas, adeus a qualquer experiência passada?

Não serei inteiramente feliz no céu,  se não puder ver  novamente Izabel varrendo a calçada, por isso creio em viagem no tempo, mas a partir da eternidade.

Teremos uma grande biblioteca à nossa disposição, onde vivenciaremos o passado como se lá estivéssemos. Evidente que não será uma biblioteca de livros.

E o meu caldinho? Bem, Jesus com seu corpo ressuscitado comeu uns peixinhos com seus discípulos. Se me der vontade, e Deus o permitir, quem sabe?

E minha noite sem dormir com dor no pé? seria legal revivê-la, para me lembrar do que fui liberto, e explodir-me em glórias e júbilos ao criador e redentor, Cristo o Senhor.

Parafraseando o rei Agripa: “Edson, Edson, teus devaneios te fazem delirar!”

Prefiro meus delírios ao ócio de nada pensar e nada refletir.

Embora não o tenha lido, apenas feito consultas, há um livro que fala sobre o Habitat Humano, o paraíso ausente, do pastor presbiteriano Dr. Heber Carlos de Campos. Não foi ele que inspirou minhas reflexões, mas citarei uma de suas muitas considerações:

“A restauração do nosso habitat é a restauração a sua forma pura, original.” “O homem reinava ali no Éden, sendo um corregente do Criador.” “Depois da queda, ele perdeu o domínio perfeito do habitat e passou a usá-lo para seus propósitos ímpios e egoístas, não tratando a terra como deveria.” “Mas Deus, por sua graça, restaurará o homem e o porá no habitat restaurado para que ele venha a ter novamente o governo sobre o universo físico”.

Não me alinho totalmente ao texto acima, mas dele decorre a seguinte inflexão – Não podemos expurgar a nossa humanidade dos nossos pensamentos sobre o céu. Precisamos não incorrer no erro de desumanizar o céu, mas não devemos torna-lo um lugar físico, material.

Cristo tornou-se humano – “O verbo se fez carne”. A humanidade é uma criação divina e, mediante a redenção, humanos se tornam filhos de Deus, sem deixarem de ser humanos.

Os céus, estejam onde estiverem, serão o habitat dos humanos redimidos.

Devemos valorizar nossas experiências humanas, aquelas que nos tornam dignos da nossa vocação eterna, vendo em nossas vivências terrenas uma experiência ímpar e empolgante, na fé e esperança de que as viveremos de maneira plena e espetacularmente gloriosa numa dimensão celestial.

Vou  terminar com Manuel Bandeira, com pequenas alterações no seu texto original:

Izabel pura, Izabel boa,

Izabel sempre de bom humor.

Imagino Izabel entrando no céu.

“Licença São Pedro!”

E São Pedro bonachão : “Entra Izabel, você não precisa pedir licença.”

O JORNALEIRO.