DA PRAIA DA ILHA DE KOS – A VOZ DE JESUS

6 de setembro de 2015 / 0 Comentários

0905 aylan4Na praia da ilha grega de Kos, uma criança síria, Aylan Kurdi, de 3 anos, parecia dormir sob o som de uma cantiga de ninar entoada pelas espumas das vagas que iam e vinham sem cessar.

Mas Aylan não dormia, estava morto.

A cena, de tão chocante, foi omitida por alguns jornais. Mas houve também quem a divulgasse, escondendo seu rosto; houve quem a estampasse nas páginas internas, porém alertando os seus leitores quanto à dramaticidade do seu conteúdo.

Uma comoção dominou as redes sociais que impactadas pelo horror, questionavam as razões, clamavam por justiça, ou simplesmente lamentavam. São mais de onze milhões de pessoas – metade da população síria – entre mortos e refugiados da guerra (dados do Estadão).

O governo sírio trava uma guerra em duas frentes: uma interna – contra os inimigos do regime; e outra externa – contra o impiedoso exército do Estado Islâmico que pretende impor um califado na região.

Para fugir da guerra, a família Kurd queria ir para o Canadá. Por não disporem dos recursos necessários, optaram pela Europa como um meio para atingirem seu objetivo.

Contudo, o barco em que estavam naufragou, e as ondas levaram para a praia o corpinho inerte de Aylan.

Os traficantes cobram dois mil euros por pessoa para transportá-las para Europa, e no desespero de fugir dos horrores da guerra elas arriscam suas vidas em frágeis embarcações, viajando preferencialmente à noite para escaparem da vigilância da guarda costeira.

Culpar quem? A insensibilidade dos países europeus que chamam os fugitivos de imigrantes ilegais e se negam a recebê-los? O Estado Islâmico, cruel e desumano, dominado por um fanatismo voraz?

A Igreja brasileira também é culpada, pela nossa omissão, por não intercedermos pelas vítimas das tragédias que acontecem no Oriente Médio e na África.

Temos nos esquecido de que a oração pode mover o mundo, e que nossa luta é contra os dominadores deste mundo tenebroso.

Estamos fechados no nosso mundo de Alice, sem tempo para ver os ataques do inferno contra uma humanidade amada por Deus a tal ponto de dar seu único Filho para sua redenção.

Não choramos por eles – nosso Senhor chorou sobre Jerusalém.

Abandonado na praia o corpinho de Aylan me lembra o menino Jesus na manjedoura. Também foi perseguido, desprezado, deixando sua terra para refugiar-se no Egito. Nosso querido Jesus, um refugiado galileu.

Penso o menino Jesus da manjedoura numa cruz, ainda infante, indefeso, arrancado dos braços de Maria e colocado no madeiro vil.

O nosso Cristo certamente estava naquela praia, morrendo com Aylan, sofrendo com o desespero de um pai que de um só golpe perdeu toda sua família.

Milhares de pessoas em todo mundo foram impactadas pela brutalidade de um mundo sem Deus.

E nós? Choraremos?

Se nos identificarmos com Cristo nos seus espinhos, sim. Mas se estivermos vazios, dominados pelas paixões da nossa carne, pela luxúria dos nossos pensamentos, pela insensibilidade de um cristianismo falido, não.

Estamos, pelo menos, sentindo a dor de milhares de vidas que diariamente fogem da guerra, passando pelo risco de perderem suas vidas, a da sua esposa e filhos, suportando as mais extremas vicissitudes?

Oramos por eles? Ainda oramos?

“A nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas principados, potestades, dominadores deste mundo tenebroso”.

Parafraseando Tozer, este mundo é para nós campo de batalha ou de entretenimento? Estamos lutando em trincheiras ou girando em um carrossel em um parque de diversões cibernético? (Quem tem ouvidos, ouça!)

Por esta causa, diria Paulo se no nosso lugar estivesse, me ponho de joelhos perante o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Choraremos?

O Jornaleiro.

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