EIS O TEMPO DOS ASSASSINOS
19 de maio de 2014 / 0 ComentáriosA frase não é minha, extrai de um artigo escrito pelo professor Roberto Romano, no jornal o Estado de São Paulo, que cita Rimbaud como seu autor.
Neste artigo comenta-se o linchamento de Fabiane Maria de Jesus, mãe de duas filhas, falsamente acusada de sequestrar crianças no Guarujá. O comentário, sobre este mesmo episódio, presente na primeira página do caderno denominado Aliás, também do Estadão, cita o filósofo Skavoj Ziekek que diz: “Vemos explosões em todo o mundo, como se algo estivesse por emergir”. Já o sociólogo José de Souza Martins, abre outro artigo com o título “Seres sem rumo”.
Fabiane Maria de Jesus foi buscar uma Bíblia que emprestara a uma amiga. Logo depois, ao sair de um mercado, viu na rua um menino sozinho e lhe ofereceu uma fruta. A mãe do menino, com a mente dominada por boatos infundados sobre uma sequestradora que estava atuando no bairro, supôs que o livro preto que Fabiane carregava, a Bíblia, fosse livro de bruxaria e que Fabiane estava querendo raptar seu filho. A mãe começou a gritar. Logo se ajuntaram cem pessoas, várias mulheres e até crianças dispostas a fazer justiça com as próprias mãos. Fabiane acabou morrendo, espancada pela multidão que só não a queimou em razão da chegada de policiais.
Transcrevo aqui mais uma declaração importante do sociólogo José de Souza Martins: “Pode ser conjuntural, mas (os linchamentos) é indicação de que a sociedade está descontrolada. Expressão de falta de confiança nas instituições, medo e insegurança.”
Há de se perguntar: o que está acontecendo com nossa sociedade? Alguns articulistas dizem que a sociedade está nervosa. Em uma greve de motoristas no Rio, 467 ônibus foram queimados. Será que a Igreja não está percebendo o que está acontecendo?
Quando o povo perde seus valores e princípios, volta para a barbárie, e acaba nascendo um desprezo pela verdade, justiça, sinceridade, honestidade. Os meios de comunicação de massa apresentam diariamente novelas em que se ensina a mentir, ser infiel, levar vantagem sobre o semelhante. Há um incentivo ao consumo, e quem não pode consumir parte para a violência, o roubo, assassinato.
O evangelho é simplicidade, Cristo foi simples, mas a igreja prega prosperidade e a opulência. Quando igreja e mundo falam a mesma linguagem, o que podemos esperar? A pregação deve atingir os ricos, denunciando sua ganância desenfreada, os políticos, sua corrupção, os meios de comunicação, sua irresponsabilidade. A pregação deve atingir a própria Igreja, mostrando a diferença entre espiritualidade e religiosidade, entre a prática das verdades cristãs e a ortodoxia sem vida. “A fé sem as obras é morta”.
Ed René Kivtz, pastor da Igreja Batista de Água Branca, em artigo na revista Ultimato diz: “O evangelho de Jesus Cristo ensina que os ricos do reino de Deus são aqueles que se comprometem com os pobres do reino dos homens. ”. A valorização das pessoas pelo que elas têm e não pelo que elas são, não pelas suas virtudes, mas pelas suas posses, coloca o homem no centro do universo, destrona Deus, e gera o humanismo secular.
Cada cristão deve rever a sua “práxis” cristã, buscar os valores e princípios de Cristo e vivê-los intensamente. Somos sal e luz. Precisamos nos despojar da vaidade, dizer não ao consumismo, sermos simples em todas as áreas da nossa vida, “santos em toda maneira de viver”, não permitir que em nossas igrejas haja necessitados de remédios, estudos, teto e agasalho. Devemos também agir proativamente nas comunidades carentes trabalhando para sua transformação espiritual e social. Só assim seremos um contraponto neste tempo que Rimbaud chama de “tempo de assassinos”.
Quero lembrar que a frase é forte, mas não é minha. Ela está dentro do contexto de linchamentos, destruição de mais de 467 ônibus, informações irresponsáveis que levam o povo a loucura.
“Quem lincha incentivado por rumores pode aplaudir o massacre de milhões” – frase do professor Roberto Romano.
Dentro desta resenha de comentários jornalísticos que compõem esta reflexão há uma análise, feita pelo editorial do Estadão do dia 11 do corrente mês, que é muito preocupante:
“Gravíssimo é o fato de que eles (episódios de violência) estão se tornando banais, corriqueiros, cada vez mais descontrolados, revelando a cada dia com maior nitidez um cenário de convulsão social que ninguém sabe onde vai terminar.”
Desperta igreja. Se profetas não se levantam no meio evangélico, profetas se levantam lá fora, “Deus pode suscitar destas pedras filhos de Abraão” quando seu povo emudece e faz morrer o espírito de profecia. Além de assumirmos uma “práxis” genuinamente cristã, devemos, primordialmente, orar confessando os nossos pecados e os pecados da nossa nação.
Se homens que desconhecem a Palavra se enquadram dentro deste cenário, “neste rito morremos todos, aos poucos, violentamente, porque nele a sociedade se acaba para ser um aglomerado provisório de seres sem rumo.” – Prof. José de Souza Martins
“Se o meu povo que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” II Crônicas 7.14.
“Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o pórtico e o altar, e orem : Poupa o teu povo, ó Senhor.” Joel 2.17.
“Porque é tempo de buscar ao Senhor até venha e chova justiça sobre nós”. Oséias 10.12.
EIS O TEMPO DE BUSCAR AO SENHOR!
O Jornaleiro
0 comentários