Repercutiu na mídia e até mesmo entre políticos influentes a tragédia familiar da deputada Flordelis, pastora e cantora gospel. Não quero fazer juízo sobre seus atos, nem fazer sensacionalismo com os fatos narrados pela imprensa. Quero apenas destacar o título de um artigo publicado pelo jornal Isto é Independente [1]: “Filiais de igreja de Flordelis fecham as portas”.

Criar igrejas é algo corriqueiro nos dias de hoje. É um pretexto para se auto promover, aproveitar-se da boa fé do povo e angariar dinheiro. Segundo o jornal, uma das causas do assassinato de Anderson do Carmo, seu marido, foi brigas internas pelo poder financeiro da igreja.

É muito triste ver o evangelho enxovalhado por escândalos provocados por pseudos cristãos.

No evangelho de Marcos 9:42, Jesus diz:

“E qualquer que escandalizar um desses pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e que fosse lançado ao mar”.

Do evangelho de Matheus 18.7:

“Ai do mundo por causa dos escândalos, porque é mister que venham os escândalos, mas ai do homem por quem o escândalo vem.”

Chama a atenção – “igreja da Flordelis” –, porque muitas igrejas e pequenos grupos da igreja são formados em torno de um homem. Basta ter um pouco de carisma e pessoas são levadas por um encantamento maligno passando a seguir homens, imaginando que são seguidores de Cristo.

Uma luz vermelha se acende aqui. A espiritualidade verdadeira não pode ser confundida com dons que não procedem do Espírito Santo, mas da carne e do pecado, do ego inflado pelo maligno.

“Cada um é tentado pela sua própria concupiscência”. A linha divisória entre luz e trevas é muito tênue e o caminho para uma espiritualidade sadia é cheia de perigos. É muito fácil pensar que se está falando da parte de Deus, quando na verdade somos nós que estamos usando seu nome em vão.

Para o cristão sincero já não há mundo nem carne, mas há a ilusão que se tem um dom espiritual, que se é um profeta, um revelador de mistérios, quando na verdade o que se manifesta não é o Espírito, mas as trevas.

Os arraiais evangélicos estão cheios disso. O cristão verdadeiro procura não usar o seu dom de forma irresponsável, é cauteloso, teme e treme só de pensar que pode estar falando de si e não da parte de Deus.

Quando igrejas ou grupos formam-se em torno de um homem, nós estamos vendo a ascensão de um novo Nimrod que se destaca pelo seu nome, sua personalidade, força e carisma, não é humilde, não procura esconder-se atrás da cruz.

Precisamos ter cuidado quando muitas pessoas querem nos seguir, corremos o perigo por sermos seduzidos pelo nosso próprio eu, que ama afagos, elogios, uma boa imagem. Não nos esqueçamos que somos pó, e só a graça nos vivifica, só o Espírito pode nos usar.

Até nos maus exemplos podemos extrair lições para nós, e Flordelis nos ensina a ter cuidado com o que somos. Célebre é a frase “achei o inimigo, o inimigo sou eu”.

Destaco os seguintes versículos:

“Porque ainda que vivamos como homens, não lutamos segundo padrões humanos.
As armas com as quais lutamos não são humanas, ao contrário são poderosas em Deus para destruir fortalezas.
Vocês observam apenas as aparências das coisas”. (II Coríntios 10:3-5)

“Contudo quem quiser se gloriar, glorie-se no Senhor.
Pois não é aprovado aquele que a si mesmo se recomenda, mas aquele a quem o Senhor recomenda”. (II Coríntios 10:17-18)

Costumo chamar de gurus aqueles que arrastam pessoas atrás de si, promovendo-se como profetas, curadores, vaticinadores. Megas igrejas são formadas assim, mas o tempo irá demostrar que a obra foi feita com palha e não com ouro refinado.

Jesus pregou para as multidões, mas seu chamado foi um a um. Primeiro, Pedro e André. Depois, Tiago e João. Não se pastoreia multidões, mas se engana multidões. Que sua igreja ou seu pequeno grupo ou célula não seja conhecida pelo seu nome, mas por possuírem pessoas semelhantes a Cristo.

O Jornaleiro
02/11/2020

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[1] Isto é, “Filiais de Igreja de Flordelis fecham as portas”. Disponível em: https://istoe.com.br/filiais-de-igreja-de-flordelis-fecham-as-portas/