Maria Bonita
28 de janeiro de 2014 / 0 ComentáriosA mulher de Lampião, a julgar pelas fotos, era realmente Bonita.
Fico a pensar o que pode ter levado, uma moça prendada, abandonar sua família e seguir mundo a fora, a sina de um bandido.
Pensar sobre o assunto pode parecer totalmente desnecessário quanto sem nenhuma valia, mas não é, visto que “Marias Bonitas” continuam a se entregar aos bandidos disfarçados de mocinhos.
Amor não foi, porque amor racionaliza, calcula, mede e pesa. Qualquer sentimento que não caminha nessa direção, não pode ser chamado de amor, mas de paixão.
Paixão que é cega, irresponsável, irrefletida e egoísta.
Maria Bonita nunca teve o prazer de sentar-se a mesa e ver uma família, embaixo de uma choça, mais feliz com o calor humano, o afeto sincero, os risos das crianças, o prato quente que a todos une, numa refeição carregada de sonhos.
Maria Bonita nunca colheu flores do seu jardim, nem deu água a um viajante solitário, ou ouviu uma história de outras histórias, de outras amigas.
Passou um cavaleiro reluzente, bastou chamar, pulou na garupa e partiu.
O Lampião de hoje, nem chama Lampião, tem nome bonito, roupas de grife, não vem montado a cavalo, mas em carro importado, tem o poder de compra com o que, até afeto e beijos angaria.
Maria Bonita não pensa, – “esse que diz que me ama” -, ainda ontem sussurrava em outros ouvidos, e quantos sussurros, quantos “te amo” já não a tantos ouvidos falou.
Ele pode ser um empresário, que escolhe suas vitimas, ou o galã da faculdade, ou ainda o riquinho do bairro nobre, mas é Lampião.
Maria Bonita nunca perguntou por que seu marido carregava um fino punhal na cintura. Não precisava, ela sabia. Era pra sangrar seus desafetos. Não bastava bater ou matar, era preciso sangrar.
Sua sangria começa com os beijos que lhe rouba, depois prossegue com sua intimidade que ele devassa, e depois enxovalha sua honra, porque você passa a ser seu grande triunfo, que pelo resto da vida há de exibir em rodadas de bebidas, cigarros, e outras mulheres.
O amor olha o caráter, a paixão olha as vantagens, o amor vê o futuro, a paixão o agora, o amor quer segurança, paixão o prazer imediato, amor pensa na descendência, paixão despreza o afeto natural, o amor tem freios e limites, a paixão desconhece portas ou janelas.
Não aceite ser Maria Bonita, apenas uma boneca, um instrumento de prazer, um descartável! Seja apenas Maria, da beleza que vem da alma, do brilho de um olhar sincero, da simplicidade dos gestos e das vestes, porque enganosa é a graça e a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor está será louvada!
O belo engana, e a verdadeira beleza está na vida que teme ao Senhor.
Maria, espere o seu José. Para todas as “Marias”, simplesmente Maria, sempre haverá um José que virá com outro nome, que não será necessariamente um carpinteiro, mas será homem de respeito,
Homem que ama o trabalho,
Ama a flor,
A criança.
Homem sensível,
Que sabe das coisas do coração.
Homem que conhece o caminho da sua alma,
Nela tocará,
E te fará feliz!
O Jornaleiro
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