MASSACRE EM MANAUS

18 de janeiro de 2017 / 0 Comentários

manaus2A cada dia o Estado vai perdendo mais e mais o controle sobre suas áreas de atuação, como na política, educação, saúde, economia e segurança pública.

O cidadão, perplexo, se vê privado dos seus direitos mais elementares e vive um salve-se-quem-puder.

A Igreja tem sua parcela de culpa e deve à sociedade uma participação mais contundente, em que possa mostrar sua cara, tanto na sua forma de pensar o momento atual, como nas suas articulações de misericórdia.

O massacre de Manaus expõe uma chaga social que clama pela presença da Igreja.

Chama a atenção um depoimento do juiz Luiz Carlos Valois:

O juiz da execução penal tem que olhar para o preso como um ser humano. Mas essa minha capacidade (de ver o preso como ser humano) está abalada porque vi monstros. Minha fé no ser humano, em geral, está debilitada, e preciso recuperá-la”. Fonte: [1]

As vítimas foram decapitadas, esquartejadas, incineradas, tiveram corações e vísceras arrancadas. Todas as rebeliões foram filmadas e fotografadas pelos próprios presos, que compartilharam os vídeos e as imagens em grupos de WhatsApp. São dezenas de decapitações e demonstrações de crueldade.

Quando lá cheguei tinha um container cheio de braços e pernas. Um horror” – disse o juiz Luiz Carlos Valois.

Não é a primeira vez que isto ocorre. Em 02 de janeiro de 2002, numa rebelião no presídio de segurança máxima Urso Branco, em Porto Velho, Rondônia, os cadáveres eram retirados por trator tipo retroescavadeira que os recolhia do interior do presídio e os jogava num caminhão que os levaria para o IML.

A guerra entre facções rivais é apontada como causa dessas rebeliões – há três grandes organizações PCC – Primeiro Comando da Capital, em São Paulo, CV – Comando Vermelho (Rio), FDN – Família do Norte, região Norte e Nordeste.

O líder da FDN se vangloria de ter mais de 200.000 seguidores, todos cadastrados e com senhas. Essa organização controla a Rota do Solimões da cocaína produzida no Peru e na Colômbia. Foi ela quem protagonizou o massacre no COMPAJ (Complexo Penitenciário Anísio Jobim) em Manaus.

Mas não se pode atribuir unicamente à FDN a responsabilidade pela carnificina em Manaus.

De acordo com a revista Veja de 11 de janeiro de 2017: “…o quadro geral do presídio é estarrecedor. As condições sanitárias…são degradantes. Há proliferação do vírus da AIDS, hepatite e sífilis. A tuberculose se espalha entre os internos. A Penitenciária Lemos de Brito, a maior de Salvador, na Bahia, é um exemplo lamentável. Em dezembro passado, havia um médico para atender todos os seus 1.501 presos – doze deles com HIV, quinze com tuberculose e 29 idosos”.

Outro periódico diz: “O cheiro e o ar que dominam as carceragens do Brasil são indescritíveis, e não se imagina que nelas é possível viver”.

O cenário nos lembra o épico de Castro Alves, Navio Negreiro”.

“Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

            “E gargalha Satanás”.

Soa oportuna a Palavra de Deus a Isaías: “A quem enviarei Eu e quem há de ir por nós?”.

Uma população carcerária de 600.000 presos para 300.000 vagas, a quarta do mundo, atrás somente de Rússia, China e Estados Unidos, que clama por salvação. Por quanto tempo ainda ouviremos Satanás rir da Igreja, da sua surdez, apatia, indiferença ante aos clamores do mundo?

Deus deu poder à Igreja primitiva para pisar serpentes e escorpiões e todo poder do maligno. Ela vivia em um mundo hostil, com soldados inescrupulosos e cruéis, tiranos sanguinários, um mundo de traições e sicários. Mas ela confiou que “vindo o inimigo como correntes de águas, o Espírito do Senhor alvorará contra ele a sua bandeira”. (Isaías 59.19)

Quantas igrejas, quantos pastores, quantos cristãos dedicados estão vendo este quadro e se importando? Certamente há alguns poucos lutando, mas uma esmagadora maioria deve estar dominada pela cultura do entretenimento que domina o mundo de hoje (Mario Vargas Lhosa – A civilização do espetáculo), que levou Tozer (Livro – Este Mundo: Lugar de Lazer ou Campo de Batalha?) a dizer se para o cristão o mundo era um lugar de lazer (entretenimento) ou um campo de batalha?

A capacitação divina, com avivamento, poder do Espírito Santo virá a nós quando estivermos dispostos, seguindo o exemplo da igreja primitiva, a enfrentar os principados e potestades, os dominadores deste mundo tenebroso nos grandes desafios que clama pela presença e atuação da igreja.

Nós cristãos sabemos o que fazer e como fazer… mas queremos?

Se achamos que queremos, por que não temos feito?

O JORNALEIRO

[1] http://noticias.band.uol.com.br/cidades/noticia/100000839337/temos
-que-parar-de-legitimar-faccoes-diz-juiz.html

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