O SOCO DO PAPA

13 de março de 2015 / 0 Comentários

O soco do papaMagistral o artigo que leva o título acima, de autoria do jurista Fábio Ulhoa Coelho, no jornal O Estado de São Paulo de 21 de janeiro de 2015.

No seu giro pelas Filipinas, papa Francisco, soltou a seguinte frase: “Daria um soco em quem xingasse sua mãe, mesmo que o mal feito partisse de um grande amigo”.

Salienta o escritor: “A mensagem fundamental do cristianismo é que sempre devemos perdoar os nossos inimigos”.

O código de Hamurabi escrito há 1.700 anos antes de Cristo, oriundo da Mesopotâmia, descoberto por uma expedição francesa em 1901, na cidade de Susa – “fortaleza de Susa”, segundo a Bíblia – no atual Irã, contém, entre outros ordenamentos jurídicos, a famosa lei de Talião, “olho por olho dente por dente”.

Segundo esta lei, se alguém arrancasse o olho de alguém, seu olho também deveria ser arrancado. Jesus mencionou essa lei, no célebre Sermão do Monte. “Ouvistes o que foi dito aos antigos, “olho por olho, dente por dente, Eu porém vos digo…”

Diz o articulista : “À lei de talião Jesus contrapôs a concepção revolucionária de oferecer a outra face”.

O contexto da fala do papa foi o atentado feito por terroristas que se intitulavam mulçumanos ao veículo de comunicação Charles Hebdo. Na verdade, o papa reclamava da forma desrespeitosa da imprensa ao tratar de assuntos religiosos, sejam eles do islamismo, catolicismo ou protestantismo.

Qual seria, ainda seguindo o raciocínio do jurista Fábio Ulhoa Coelho, a reação apropriada e adequada a um seguidor de Cristo?

Não é só o papa que calça as sandálias do pescador, mas todos nós somos seguidores de Cristo e dos apóstolos.

Os que atacaram de forma premeditada, voluntária, em uma ação terrorista, a sede da Charles Hebdo deveriam mostrar perdão.

O islamismo não aceita Jesus como o Filho de Deus, mas o aceita como profeta, e aceita os evangelhos. Convém notar que Maomé surgiu no cenário histórico, mais ou menos, 600 anos depois de Cristo. As suas ditas revelações devem ter sido influenciadas tanto pelo Velho como o Novo Testamento. É um contra senso, portanto, afirmar que Jesus Cristo é um profeta e ao mesmo tempo negar os seus ensinos.

Com notável argúcia, o articulista do artigo “O soco do papa” faz o seguinte comentário sobre a afirmação do papa Francisco: “(o papa Francisco) considerou natural responder com violência certas provocações, não esclareceu, porém, como reagiria se o agredido revidasse com pontapés”.

Fica evidente a escorregadela do papa, que não deveria dizer que socaria quem ofendesse sua mãe. Não devemos condená-lo por isso, já que as multidões de nossas falhas não estão sob os holofotes, se estivessem…

O que devemos aprender com tudo isto é que perdoar é uma tarefa difícil, não faz parte da nossa química humana. Só quando amalgamados por uma graça divina é que conseguimos, impulsionados pelo Espírito Santo, realizar o ato divino do perdão.

Quando penso no ensino de Cristo que devemos perdoar setenta vezes sete me vejo compelido a perdoar a cada instante, perdoar quem nos corta a frente com um automóvel, quem nos ofende no trânsito, o atendente que nos trata mal, a espera no pronto atendimento, e por aí vai.

Mas também me perdoar, seguindo o curso divino, de perdoar a mim, um ser pecável, e esquecer totalmente dos males que faço – “dos teus pecados e iniquidades, jamais me lembrarei, diz o Senhor”.

Quantas e quantas vezes a culpa pelo erro cometido no passado (às vezes na infância) assalta a nossa alma, sentimo-nos mal, perturbados, como réus ofensores da pureza, do certo, justo e bom.

Não saber lidar com isto de forma bíblica pode nos levar a um desapontamento sem fim, conosco mesmo, pode nos levar a descrença e desilusão.

É a hora de saber perdoar a nós mesmos.

A base para nos perdoarmos é que Deus já nos perdoou. Não podemos querer ser mais do que Deus, isto é ser usurpador. Portanto, a regra áurea é perdoar, perdoar sempre, a todo o momento, e isto requer confissão e arrependimento contínuo.

Não julguemos o papa pelo soco que ele diz que daria, é o mesmo que damos contra os outros e contra nós mesmos.

Termino com uma frase do eminente jurista e escritor: “Jesus não teria recomendado um soco, muito menos tiros letais como resposta aos acintes cometidos. Teria apenas dito ser necessário perdoar…”

O JORNALEIRO.

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