LÁZARO

12 de setembro de 2023

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LázaroA biografia dele é pobre em detalhes, mas riquíssima em significados. Sua casa, à porta do rico, seu menu diário, migalhas, seus amigos e seu bálsamo, os cães. Como ser feliz vivendo em circunstâncias tais? Mas ele era.

Entender Lázaro é o maior desafio para qualquer um de nós. Ele guarda um segredo profundo, quase inescrutável. Deus se agradou dele, tanto quanto se agradou de Enoque cuja biografia também é por demais sucinta: Enoque andou com Deus e Deus para si o tomou.

Sua vida me revela o quão longe estou da humildade de Jesus Cristo e me traz profundo quebrantamento. Ele morreu e foi levado pelos anjos. Estava à porta do rico vivendo de migalhas, estava à porta dos céus vendo a glória que o esperava.

Não é por ser pobre que a Bíblia marca a sua trajetória sobre a terra, mas pelo que estava no seu coração. Ver sua alma é ver o que agrada a Deus

Não murmurava. Israel no deserto, comendo maná e codornizes, com roupas que não envelheciam, ar condicionado à noite e de dia, porque no calor do deserto a nuvem que os acompanhava dava sombra e descanso, o fogo à noite aquecia as noites frias. Esses sinais marcavam a presença de Cristo na vida do seu povo, mas este mesmo povo vivia se rebelando contra Deus, insatisfeito com tudo de bom que recebia.

Agradecia ao rico permitir estar a sua porta, agradecia a Deus por simplesmente estar ali, comer o seu pão de cada dia, migalhas, não se revoltava vendo tanta gente ostentando riquezas mundanas entrando e saindo daquela mansão.

A ninguém invejava. Não maldizia a sua sorte. Não esbravejava. Ao relento, tomando chuva ou enfrentando o sol escaldante, pouco lhe importava, o Senhor era sua alegria e riqueza.

Seus amigos eram os cães. Por que vinham para junto dele? Porque com eles repartia as suas migalhas e eles lhes demonstravam gratidão lambendo suas feridas, eram o balsamo para sua dor.

Quantas noites enluaradas ouviram sua prece candente, languida e triste, um lamento logo substituído por canções de amor ao Deus de Abrão, Isaque e Jacó, o Deus dos vivos e não de mortos. As estrelas recolhiam suas preces e cânticos e os depositavam aos pés do que está assentado no trono.

Sansão empolga pela sua força, Davi pela coragem contra Golias, Paulo pela sua teologia, João pelas suas mensagens de amor, mas Lázaro empolga pela sua fraqueza, o seu abismo, sua força contra a miséria, coragem suportando a ostentação, sua teologia do sofrimento, sua mensagem muda de um amor saído das feridas e das chagas.

Levanto-me em guerra contra mim mesmo e grito – Tenho coisas demais, conforto demais, não precisaria de nada disso, tudo é vento e desperdício! Ó insatisfação que nunca tem fim, desejos que nunca cessam! Jamais conseguirei viver feliz sendo Lázaro, nem mesmo como o rico.

Meu Lázaro Jesus, me ensina a conviver com este desafio – de saber que nunca o agradarei como Enoque ou como Lázaro, que nunca farei o que tu fizeste, mas a confiar de todo coração que sabes quem eu sou “um pobre e necessitado” de virtudes, amor, esperança e fé. Mas apesar de tudo isto tu me redimes se colocando no meu lugar e dizendo – “Eu sou tudo o que você não pode ser”, “Eu sou tudo que lhe basta”, abraça-me, filho, sou Eu que o Pai vê quando olha para você, porque me fiz Lázaro por você, me fiz pecado e maldição. Sou em você tudo que você não pode ser.

O JORNALEIRO
12.set.23